sábado, 30 de maio de 2009

The Defense - Vladimir Nabokov

"The whole time, however, now feebly, now sharply, shadows of his real chess life would show through this dream and finally it broke through and it was simply night in the hotel, chess thoughts, chess insomnia and meditations on the drastic defense he had invented to counter Turati’s opening. He was wide-awake and his mind worked clearly, purged of all dross and aware that everything apart from chess was only an enchanting dream, in which, like the golden haze of the moon, the image of a sweet, clear-eyed maiden with bare arms dissolved and melted. The rays of his consciousness, which were wont to disperse when they came into contact with the incompletely intelligible world surrounding him, thereby losing one half of their force, had grown stronger and more concentrated now that this world had dissolved into a mirage and there was no longer any need to worry about it. Real life, chess life, was orderly, clear-cut, and rich in adventure, and Luzhin noted with pride how easy it was for him to reign in this life, and the way everything obeyed his will and bowed to his schemes. Some of his games at the Berlin tournament had been even then termed immortal by connoisseurs. He had won one after sacrificing in succession his Queen, a Rook and a Knight; in another he had placed a Pawn in such a dynamic position that it had acquired an absolutely monstrous force and had continued to grow and swell, balefully for his opponent, like a furuncle in the tenderest part of the board; and finally in third game, by means of an apparently absurd move that provoked a murmuring among the spectators, Luzhin constructed an elaborate trap for his opponent that the latter divined too late. In these games and in all the others that he played at this unforgettable tournament, he manifested a stunning clarity of thought, a merciless logic. But Turati also played brilliantly, Turati also scored point after point, somewhat hypnotizing his opponents with the boldness of his imagination and trusting too much, perhaps, to the chess luck that till now had never deserted him. His meeting with Luzhin was to decide who would get first prize and there were those who said that the limpidity and lightness of Luzhin’s thought would prevail over the Italian’s tumultuous fantasy, and there were those who forecast that the fiery, swift-swooping Turati would defeat the far-sighted Russian player. And the day of their meeting arrived." 

Sukiyaki Western Django - Sukiyaki Western Django

Parece que toda espécie de elogio, encomenda e dedicatória já foi feito a outras pessoas por aqueles indivíduos que criaram algum tipo de arte, de trabalho intelectual. Não consta que alguém já tenha dedicado a outrem a apreciação de algum um tipo de arte, de trabalho intelectual. Machado de Assis poderia ter colocado “A Carolina” na primeira página de Esaú e Jacó, não é assim? Mas alguém que lesse Esaú e Jacó – e que depois, naturalmente, postasse a respeito –, esse alguém poderia dizer que fez isso em honra dos seus pais? Você pega a dissertação de mestrado de alguém e lá você vai encontrar um cândido agradecimento a todos os funcionários da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Acre. Okay. Sem problemas. O que eu me pergunto é se seria possível – ou vamos esquecer possível, se seria qualquer coisa que não esquisito – alguém dizer que leu um texto de Durkheim como um gesto de sincero penhor e de humilde gratidão a todos os seus colegas de sala? Dificilmente. Eu dedico, em todo caso, os 96 minutos que eu passei assistindo a este filme

domingo, 24 de maio de 2009

Man cheng jin dai huang jin jia - Yimou Zhang


O excesso de intrigas palacianas me impediu de estar totalmente confortável ao assistir a este filme. Isso, e aquelas paredes de papel, ou sei lá o que era aquilo que ficava exclamando fragmentos de provérbios toda vez que dava a hora da imperatriz tomar o remédio. 

Em comparação com as batalhas do Clã das Adagas Voadoras, eu achei mais legal os guerreiros atacando do alto dos troncos de bambus do que quando eles se atiraram do penhasco com a ajuda de cordas. Se bem que o canyon que aparece na cena de perseguição equestre deste filme é mais legal do que a floresta lá daquele outro.

Lamento mesmo é não ter encontrado no Youtube a versão original de uma música chamada Gong Li, uma música do Red Hot Chili Peppers que eu acho que nunca entrou num cd oficial da banda. É uma das minhas músicas prediletas. Inútil, este blog. E eu pensava que a única vantagem deste blog era que ele era inútil. Mas quando eu quis que ele tivesse alguma utilidade, que ele pelo menos servisse para eu descobrir uma coisa importante, quando eu verifiquei que nem para isso ele serve, aí eu também fiquei triste. 

Como o orvalho que, caindo do céu, encontrasse o crisântemo já ressecado. 

The Elephant Man - David Lynch


Não é que o David Lynch, quando não está enterrando na nossa cabeça as suas fantasias oníricas, e quando conta uma história com início, meio e fim, não é que ele consegue cativar mesmo que a sua narrativa seja a da trajetória de uma horrenda deformidade ambulante? E olha que apesar de ser baseado na história real de uma aberração humana que se popularizou nos circos do final do século XIX, John Merrick, o roteiro do filme foi o resultado de uma interpretação livre em que se inverteram vários eventos perfeitamente datados. Como, por exemplo, o sequestro para a França e o posterior auxílio de uma comunidade de anões na sua fuga de retorno para Londres. Isso, ao que parece, não teria acontecido de verdade - quer dizer, a parte em que ele é perseguido por uma multidão quando chega à estação é verídica. Quem disse isso foi o especialista que depõe no material extra que está no dvd.  

Não consta que em 1980, quando o filme foi feito, David Lynch se notabilizasse por ser menos doido do que ele é hoje. Mas o fato é que o filme se desenvolve direitinho, até com uma linearidade enfadonhazinha. Muito bom ver o Anthony Hopkins caridoso, em qualquer caso. 

sábado, 23 de maio de 2009

The Money Pit - Richard Benjamin

O talento do Tom Hanks para graciosamente se colocar em situações que te fazem ter vontade de acabar logo com a miséria dele, como sempre dizem por aí, é justamente o que faz muitas pessoas tomarem raiva dele. Em relação ao que ele fazia quando ele era novinho, em relação a uma porção de comédias despretensiosas, portanto, eu acho que alguém ficar com raiva dele só por causa disso é um exagero. E The Money Pit parece ser um bom exemplo.

Eu não me lembrava da primeira cena do pai dele se casando com uma nativa brasileira. Um show de fogos de artifício iluminando a paisagem noturna da cidade do Rio de Janeiro, uma música tribal animando os convidados dos noivos, até aí ninguém pode dizer que se está atentando contra a verossimilhança. Não que a coisa faça alguma diferença, mas quando a mãe de santo aparece para pronunciar as palavras sacramentais das núpcias, aí sim nós podemos falar de algum tipo de irregularidade. "Puede besar a nueva", é o que ela diz sorridente e como se estivesse praticando um ato de mágica verdadeira. "Puede besar a nueva". O que seria ruim, mas eu repito que não faz a menor diferença, é que nem para espanhol essa canhestra fraseologia serviria.  Mas e daí?

Tudo é compensando quando começa a parte do Walter lá na casa em ruínas. Yale Law School, ele fez. Coitado. Para tomar banho ele acaba tendo que pegar com um balde a água que está saindo de uma estátua no jardim. E quando ele finalmente consegue carregar o balde pela escada e encher a banheira, o que acontece é a banheira se espatifando no chão... do andar inferior. Ah, eu ri. 

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma das músicas que estão no topo das que eu mais ouço na Last.fm tem um pedaço que eu sempre canto com entusiasmo. E faço isso porque eu gosto muito da melodia e da letra. O sentido da frase, que num primeiro não parece ser nada ambíguo, quando você pensa nele de uma forma um pouquinho diferente você acaba percebendo que ele pode significar outra coisa. Mas quando você continua a pensar no assunto, e isso você pode tentar continuar fazendo lá daquela forma um pouquinho diferente, você acaba confirmando que o que está sendo dito é realmente aquilo que pareceu estar sendo dito desde o início. 

Mas poderia não ser assim. 

domingo, 17 de maio de 2009

Shi mian mai fu - Yimou Zhang

(Para ser lido com o post abaixo)

Talvez a ideia de um duelo triplo não seja assim tão absurda. Ou sequer minimamente notável para que eu esteja fazendo tanto alarde. Olhando para a capa dos filmes eu agora vejo que a sugestão de que a coisa poderia acontecer estava ali desde o início. 

O duelo triplo, dessa vez, tem mais da velha tradição de dois homens se baterem por uma mulher. No outro filme, aliás, nunca é demais lembrar que apesar do consenso tácito de que ninguém poderia sair disparando tiros enquanto os outros estivessem se posicionando corretamente, a verdade é que a honra de ninguém estava sendo decidida. Antes, decidia-se quem iria ficar rico. Os chineses, por outro lado, inovaram ao colocar como parte do duelo justamente a mulher a respeito de cujo amor se duelava. 

O cenário dos dois duelos são igulamente soberbos. No Velho Oeste eles encontraram uma colina gramada onde um cemitério tinha sido instalado. Uma área circular de lama ressecada ocupava o centro dessa colina. Ali os duelistas se colocaram, formando um triângulo. O outro duelo também foi numa colina. Só que em vez da lama ressecada e do sol e da poeira, uma espessa camada de neve e trovões e muito vento.

Agora, se o que eu aprendi com esses dois filmes valer alguma coisa em matéria de duelos triplos, a tendência que eu apontaria é a de que um duelo triplo só pode chegar a alguma conclusão satisfatória se um dos participantes não conseguir disparar o revólver ou se por algum motivo a adaga voadora não sair das suas mãos. Fora disso, o que resta é verdadeiramente um caos sobre o qual eu não quero pensar.  

Il buono, il brutto, il cattivo - Sergio Leone

(Para ser lido em conjunto com o post acima)

Foi muita coincidência. Eu terminei de assistir a esse filme pensando que eu deveria fazer um post exclusivamente para comentar a cena final, a do duelo triplo entre os que queriam descobrir em qual cova do cemitério de Sad Hill estava enterrado um tesouro de duzentos mil dólares em ouro roubado. E duelo triplo foi a única expressão que me ocorreu para descrever o enfrentamento dos três, por contraditória que ela possa parecer. Triplo, é claro, pelo número de pessoas envolvidas. Duelo, porque o aspecto das regras de honra com que o tiroteio seria conduzido é importante demais para deixar de ser notado.  

Eu fiquei com essa cena na minha cabeça e já tinha decidido que eu iria registrá-la aqui. Mas a coincidência que eu mencionei acima foi a de que, logo na sequência dos filmes que eu tinha alugado para assistir, o final de todos os conflitos se resolve também com um fantástico duelo triplo. O que me leva a perguntar se é a minha memória que está muito ruim ou se duelos triplos, tais como os que acontecem nesses dois filmes, não são tão frequentes assim na história do cinema. 

Vou pedir licença para perguntar se alguém aí conhece outros. 

Everything is Illuminated - Liev Schreiber

Beleza de filme

A história é a de um colecionador de pequenos artefatos familiares que viaja para a Ucrânia. Não sem antes coletar a dentadura da sua avó moribunda, ele vai nessa viagem para encontrar a mulher que ajudou o seu avô a escapar dos atentados genocidas que os judeus ucranianos sofreram antes e durante a Segunda Guerra. Como material de pesquisa ele só tem uma foto do seu avô numa plantação e o nome do antigo vilarejo de onde ele fugiu para os EUA, este último já uma alusão tão vaga que ninguém que eles encontram pelo caminho sabe dizer onde fica. 

Mas aí vem em grande estilo a tradição dos filmes de viajantes: a de que o seu guia turístico é uma pessoa peculiar. Os seus guias turísticos, para ser mais preciso. O guia turístico responsável por dirigir o carro - o avô que quer que todo mundo comece a tratá-lo como se cego fosse - e o guia turístico responsável pela tradução - o neto que se desculpa por não ter um inglês lá so much praemium.  E, e, e? Sim, claro, não poderia faltar o cachorro mentalmente irregular chamado Sammy Davis, Jr., Jr. 

Uma coisa que eu já percebi sobre as pessoas que aparecem escrevendo em filmes é que todas elas têm uma boa caligrafia. Nesse filme o que Alex escreve no papel é mostrado inclusive como se fosse o próprio título de cada capítulo. Esses títulos são dos capítulos do livro que ele está escrevendo, ele sendo o narrador do filme e a sua narrativa sendo também uma forma de carta ao cliente que virou seu amigo. O capítulo 1 é chamado An Overture to the Commencement of a Very Rigid Search. Podem imaginar ele dizendo isso com o sotaque idêntico ao daquele cara de Grand Theft Auto 4

sábado, 16 de maio de 2009

Lost - The Incident

Este é um spoiler sem pretensões de disfarce. Vamos ver o que acontece neste último episódio da quinta temporada. 

***

A entradinha em que eles mostram o que já aconteceu antes - e que sempre mostra sobre o quê vai ser o programa que está começando - foi com o Daniel Faraday contando como ele descobriu que o evento catalisador de todas as misérias pelas quais todos os personagens da série já passaram na Ilha foi um acidente com uma britadeira perfuradora gigantesca que esbarrou num campo magnético subterrâneo. Na década de 70. Ela conta isso para um Jack e para uma Kate um pouco incrédulos, explicando que a liberação da energia causada pelo acidente fará a Dharma Initiative construir aquela escotilha do Desmond; que essa escotilha é um tipo de mecanismo de controle daquela energia; que um dia o Desmond perderá a cabeça e deixará de apertar os números cabalísticos a cada 108 minutos, e provocará a caída do voo da Oceanic. Conclusão brilhante: se eu pegar uma bomba de hidrogênio que está enterrada em algum lugar da Ilha e detoná-la no local em que as perfurações estão sendo feitas, quem sabe eu consigo enterrar tudo ao redor e neutralizar o magnetismo, assim evitando que a escotilha seja construída, assim tornando desnecessária a presença do Desmond nessa escotilha, assim impedindo que o voo da Oceanic se desvie da sua rota e assim permitindo que todos os personagens cheguem sãos e salvos a Los Angeles, em vez de caírem naquela Ilha maldita. 

Pena que o Daniel morre. Fica para o Jack colocar o universo em ordem. 

O episódio começa mesmo com um homem trabalhando num tear manual, fabricando com bastante cuidado, e inteiramente sozinho, um tecido flanelado. Ele está dentro do que parece ser uma catacumba egípcia. É um homem de uns 30 e poucos anos, não muito diferente de um certo ator da Globo. Esse homem é o homem que comanda a Ilha: Jacob. Ele sai para pescar. Cozinha rudimentarmente um peixe numa pedra. Enquanto almoça ele fica observando uma caravela no horizonte -- certamente aquele navio para onde a Danielle levou todo mundo quando eles estavam precisando de dinamite, e que estava abandonado há um bom par de séculos, no meio da selva. Daí aparece um outro homem, o que está mais em destaque na foto, reclamando de que toda a destruição estava prestes a começar de novo. Ele claramente dá a entender que as pessoas que estavam chegando naquela caravela iriam fazer alguma besteira quando chegassem à Ilha. Jacob responde que as coisas só acabam uma vez, e que tudo que acontece antes disso... é apenas progresso. O sujeito, então, pergunta se o Jacob tinha ideia do tamanho da vontade que ele tinha de matá-lo. Jacob diz que quando esse sujeito finalmente encontrar um loophole para matá-lo, ele vai estar lá, esperando. Quando esse sujeito se despede, a imagem se volta para uma estátua enorme do corpo de um homem com o que me parece ser a cabeça de um jacaré. É aquela estátua que depois nós só vemos o pé dela, e que apareceu uma vez, alguns episódios atrás, quando o Locke e outros estavam viajando pelo tempo depois que o Ben rodou aquela manivela. 

Em matéria de flashback, o que nós vemos é o Jacob surgindo na vida de vários personagens. A primeira que recebe a sua visita é a Kate. Ainda menina, e na companhia daquele sujeito que tem um aviãozinho de brinquedo e que depois de alguma forma ela dá um jeito de matar, ela entra numa lojinha para roubar uma merendeira. O dono da loja, que estava conversando com uma outra cliente, percebe que ela tem alguma coisa na mochila. Ele decide ligar para a mãe da Kate. O Jacob então aparece. Diz que ele paga a merendeira se o dono da loja não fizer nada. Ele se despede da Kate pedindo que ela nunca mais roube nada - o que ela evidentemente deixará de fazer. Outro que aparece recebendo uma visita do Jacob ainda quando criança é o Sawyer. Acontece logo depois do funeral dos pais dele. O Sawyer estava sentado na escada da igreja, a carta que ele escreveu para o homem que causou a morte dos seus pais sendo escrita nas suas primeira linhas "Dear Mr. Sawyer. You don't know me, but I know you". Jacob dá uma caneta para ele. Também a Sun e o Jin são visitados. Na festa de casamento. Quando eles estão recebendo os cumprimentos dos convidados, um homem desconhecido dos dois noivos aparece para dizer que eles devem se amar muito, blá, blá, blá. Este homem é Jacob. Para o Sayid é que a presença do Jacob é a mais trágica. Ele fica parado, num sinal de trânsito. Quando o Sayid está passando com a esposa -- a tal da Ilana --, o Jacob finge que está precisando de umas informações sobre como chegar a algum lugar. O Sayid volta para dar a informação, apenas para ver a esposa ser atropelada brutalmente por um furgão. Já o Hurley se encontra com Jacob quando ele está saindo da prisão. Eles dividem um taxi. Jacob aparece também para o Locke, dizendo que tudo iria ficar bem, quando ele despencou de um terceiro andar, e para o Jack, entregando um chocolate que ele tinha comprado numa vending machine e que tinha ficado emperrado. 


Na Ilha, no núcleo de 1977, Sawyer, Juliet e Kate são colocados num submarino encarregado de deportá-los. A Kate conta do plano do Jack de explodir a bomba de hidrogênio, inicialmente sem sensibilizar o Sawyer para a necessidade de salvar a vida de todas as pessoas que ficaram para trás, mas enfim motivando a Juliet a dar um chute e um soco num soldadinho que estava passando por perto, daí partindo para a tomada do controle do submarino. Os três voltam para a Ilha num botezinho, enquanto o submarino desaparece nas águas. Ainda nesse núcleo, o Radzinsky insiste para o Dr. Japonês (não me lembro agora do nome dele, o pai do Miles) não interromper as perfurações. Enquanto os trabalhos vão seguindo, Jack e Sayid se juntam ao Richard e à mãe do Daniel para levar adiante o plano de explodir a bomba. No caderninho que o Daniel deixou eles encontram algumas instruções, para o bem da história não sendo necessário que a bomba inteira seja transportada para a sua detonação, apenas um dos seus pequenos componentes servindo para o fim de mandar as perfurações para o espaço. O templo subterrâneo onde a bomba foi escondida, por sorte, tem uma parede falsa que dá para o porão de uma das casas da colônia da Dharma. Só o Jack e o Sayid é que levam a bomba, porque o Richard resolve dar um golpe na cabeça da mãe do Daniel logo na hora em que ela ia passar pela parede. Ela desmaia e ele a carrega de volta (eu gostaria de saber como ele fez para sair do templo com ela, ela estando naquele estado, porque a passagem que eles utilizaram para chegar lá era um buraco no meio de um rio). 

No núcleo de 2007 a história é a da travessia da Ilha pelo Locke, o Ben e o Richard, um punhado de gente os seguindo. Destino: a morada do Jacob, precisamente aquela estátua de que hoje só sobrou o pé com quatro dedos. A cada vez que eles aparecem caminhando pela praia o Locke está conversando com alguém. Primeiro o Richard vem reclamar com ele de alguma coisa. Ele diz que o Ben tinha contado para ele sobre como o Locke já tinha morrido uma vez, na ocasião em que ele, Ben, teve de estrangulá-lo. Locke responde que era mesmo bastante charmoso ele ter ressuscitado e tal, assim como era curioso que o Richard jamais envelhecesse. Depois o Locke conversa com o Ben, que então confessa que algumas horas antes, quando eles estavam num templo, o fantasma da sua filha morta tinha aparecido para ele, dando ordens explícitas de que ele cumprisse tudo que o Locke mandasse. O Locke sorri. Que bom, então, que ele não iria precisar gastar muita conversa convencendo o Ben a assassinar o Jacob. 

Ainda em 2007, um grupo de 5 pessoas, entre elas o piloto do voo da Oceanic e um sujeito que é como se o Brendan Fraser tivesse engordado ao ponto de parecer uma pessoa normal, desembarca numa canoa. O piloto pergunta quem diabos eles eram, eles que tinham cometido um espancamento nele com a ajuda de um pedaço de madeira. Eles dizem que eles são os mocinhos da história. Eles estão levando uma enorme caixa de metal, o conteúdo da qual, eu adianto, é o cadáver de John Locke. Quer dizer, a pessoa que apareceu lá na Ilha dizendo-se o Locke ressurgido das cinzas não era o John Locke coisa nenhuma. Essa pessoa não é outro senão aquele homem que aparece conversando com o Jacob no início do episódio, que de alguma forma encontrou o seu loophole é que agora só quer saber de matar o Jacob. Justos céus.

Voltando à década de 1970, Jack e Sayid saem da casa e tentam passar despercebidos na confusão que está acontecendo na vila da Dharma. Sayid arruma um macacão e coloca o dispositivo da bomba de hidrogênio numa mochila. O pai do Ben, no entanto, o reconhece como o homem que atirou no seu filho. Segue um tiroteio. Jack mostra uma habilidade com a arma impensável para um simples cirurgião e uma disposição de entrar na linha de frente impensável para um homem desprovido de um colete à prova de balas. Ele não consegue evitar que o seu amigo seja trespassado por um tiro no estômago, mas consegue carregá-lo pela vila como se nada tivesse acontecido. Jin e Hurley aparecem numa das milhares de kombis que compõem a frota veicular da Ilha, resgatam os dois perseguidos e os levam pela estrada da estação onde as perfurações estão sendo feitas. Miles também está com eles. Só que no meio do caminho havia Juliet, Kate e Sawyer. Eles tinham retornado à Ilha naquele bote, tinham encontrado Vincent (o cachorro do Walt) e a Rose e o Bernard, que estavam vivendo escondidos ali, a apenas cinco milhas da vila. Três anos assim: agricultura familiar, eu suponho, ajudada pelas latinhas de mantimentos providencialmente fabricadas em algum momento da história e em algum momento da história distribuídas magicamente, automaticamente, a todas as pessoas que algum dia colocaram os pés naquela Ilha. Sawyer pediu que Jack lhe desse pelo menos cinco minutos de uma conversa franca no meio da mata, pois era o que bastaria para convencê-lo de que o que tinha acontecido, tinha acontecido, e que agora não adiantava nenhuma bomba de hidrogênio para mudar o passado. Jack resiste a essa concepção. Sawyer o esmurra. Juliet, lembrando-se de como tinha sido o divórcio dos seus pais, de como a sua mãe tinha lhe dito que um dia ela iria aprender que duas pessoas poderiam se amar e, ainda assim, serem insuportáveis uma para a outra, persuade Sawyer a não mais esmurrar o Jack. Ao contrário, a ajudá-lo no plano de explodir a bomba. 

Em 2007, eu já disse, o postiço John Locke está conduzindo os seus liderados para a estátua onde mora Jacob. Eles passam pelo antigo acampamento da praia. A Sun encontra um anel no bercinho do Aaron. Um anel do Drive Shaft. Aquele grupo de pessoas que chegou à Ilha com o piloto da Oceanic e com o cadáver do Jonh Lock The Real McCoy segue para uma cabana. Acho que é a cabana em que alguma vez tinha acontecido alguma coisa. De lá eles seguem para a estátua, não sem antes incendiar o que eles tinham encontrado. Ao chegarem na estátua eles encontram todo mundo, exceto o postiço Locke e Ben, que já tinham entrado dentro da estátua para falar com o Jacob. A tal da Ilana pergunta se tinha um Ricardus por ali. O Richard se apresenta e responde corretamente à pergunta do quê fica na sombra da estátua - um código lá que os membros de algum grupo ainda não bem identificado inventaram para se reconhecerem mutuamente. Daí ela mostra o cadáver do John. A Sun não reage muito bem. "Peraí, se esse aí é o John Locke, quem é aquele cidadão que estava aqui agorinha mesmo, e que está agora lá com o Ben o com Jacob?" 

Ainda algumas coisas acontecem em 1977. A princípio sozinho, depois com a ajuda de mais três pessoas (Kate, Sawyer e Juliet), Jack elimina todos os guardas que estavam ali para proteger a estação das perfurações, os que o Radzinsky tinha mandado chamar. Acho que eu não estou exagerando quando eu digo que esse foi o maior tiroteio da série, um dos maiores que já foram vistos em seriados. Get him, get him, get him. Get him é a única coisa que você escuta até a capitulação final. E então chega o momento da verdade. Jack joga a bomba de hidrogênio no buraco. Todo mundo, Jack,  Kate, Juliet, Sawyer, todo mundo contorce e retorce as expressões simultaneamente de dúvida, esperança, angústia e senso de cumprimento do próprio destino. A música que está tocando alcança um ponto supinamente dramático, apreensivo. Será que vai dar certo? Será que eles vão voltar para a vida da qual eles nunca deveriam ter se desviado? Jack, para o funeral do seu pai. Sawyer, para a sua vida de trapaceiro vigarista. Cumprir a pena de prisão, isso é o que merecidamente aguarda a Kate. Todos os outros serão afetados. Hurley e os seus milhões, Charlie e a sua reencontrada vida de ex-rock star. Claire e o ainda inconcebido Aaron, que poderá ou não ser adotado. O próprio Locke na sua cadeira de rodas.  Sayid, Jin, Sun, todos eles. Num estalar dedos -- sim,  eles chegarão a Los Angeles. A menos, é claro, que o Miles estivesse certo. A menos que Jack, com a sua bomba de hidrogênio, estivesse prestes a causar exatamente aquilo que ele queria evitar -- um desequilíbrio magnético cujos efeitos deletérios só poderiam ser diminuídos pela construção de uma escotilha que funcionasse 24 horas por dia, alguém lá dentro perpetuamente tendo que apertar um botão a cada 108 minutos para que um desastre natural sem paralelos não acontecesse; uma perturbação natural tão grande que o mínimo deslize nessa tarefa de apertar o botão poderia redefinir o que nós sabemos sobre confusão (digamos, o funcionário responsável por essa tarefa, num dia de sentimentalidade, deixando para lá o seu dever e tentando escapar da ilha na qual ele já estava preso por anos, e só depois, em percebendo a grande e perigosa besteira que ele tinha cometido, voltando para a escotilha e apertando o botão, mas já então tarde demais para impedir que algum tipo de magnetismo exótico fosse liberado, quem sabe o magnetismo exótico QUE CONSEGUE DERRUBAR UM AVIÃO QUE ESTIVESSE SOBREVOANDO A REGIÃO?!). Alguém já parou para pensar nisso? 

De novo em 2007, que a essa altura parece ser bastante irrelevante, já que tudo que está acontecendo ali vai mesmo deixar de acontecer quando a bomba de hidrogênio explodir e o universo se reordenar. Ben e o postiço Locke estão dentro da estátua, numa sala ampla. Jacob é visto sentado nessa enorme tumba que é o interior da estátua como alguém poderia esperar ver um professor sentado numa sala de aula, enquanto os seus alunos estivessem fazendo uma prova. Quer dizer, exatamente como se houvesse alguma coisa para ser vista e exatamente como se não fosse estranho ele ficar ali, naquela posição, quando de fato não havia nada para ele fazer naquele lugar não mobiliado. Henri Castelli, eu me lembrei que ele se parece com um cara chamado Henri Castelli.  Jacob começa dizendo ao postiço Locke que ele tinha encontrado o loophole lá do início do episódio. Imbecilmente, retardadamente o Ben fica perguntando se eles já se conheciam. E depois ele faz um discursinho de complexado, queixando-se dos 35 anos que ele passou na Ilha com o Jacob não fazendo senão ignorá-lo o tempo todo. O postiço Locke já tinha provocado o Ben antes dizendo que a verdadeira questão era por que diabos ele não iria querer matar o Jacob? O pior foi o desprezo. "What about me?", pergunta o Ben, indignado. "What about you?", retorna Jacob, impassível. E então o Ben cumpre a sua palavra de matar o Jacob. Ou pelo menos dá duas facadas que o debilitam o suficiente para o que o Locke pudesse terminar o serviço, jogando-o na fogueira. Não sem que antes ele dissesse que tinha alguém vindo. O postiço Locke ficou algo espantado com essa notícia, mas o que me deixou espantado foi que o Sayid tomou um tiro nas vísceras e não morreu -- o todo-poderoso Jacob, duas facadinhas de nada bastaram para liquidá-lo. 

E para terminar com a explosão da bomba. Parece que o Miles estava errado ao dizer que o Jack poderia estar causando o que ele estava tentando evitar. O descontrole magnético, que sai atraindo todos os objetos metálicos para o fundo do buraco, não parece ter começado com a detonação. As ferramentas, os carros e a própria britadeira que estava no local, tudo que era metálico começou a ser puxado para o buraco bem antes de qualquer detonação. Ou seja: o distúrbio magnético aconteceu da forma que o Daniel tinha descrito. Um pouco antes disso houve uma hora em que todo mundo abriu os olhos, depois de alguns instantes de ensimesmamento. Ficou parecendo que eles estavam aguardando a desconexão dos seus corpos com aquele ponto do tempo-espaço para que então eles pudessem surgir em Los Angeles, 30 anos depois. Mas não aconteceu nada disso. Eles estavam no mesmíssimo lugar quando eles abriram os olhos. E o que eles viram foi apenas a anomalia magnética no seu começo. Ou não viram. Jack foi atingido por uma pesada caixa. Juliet, agarrada por uma corrente e arrastada para a boca da fossa. Ela cai dizendo ao Sawyer, que tenta não soltá-la até o último segundo, ela cai dizendo amá-lo. A peça principal da máquina de perfuração, uma enorme estrutura cheia de canos e de uma espécie de caldeira, dobra-se à força da atração e também cai no buraco. E cai uma queda considerável. Abissalmente profunda. A imagem da câmera vai seguindo toda essa parafernália, obviamente gravada por efeitos especiais. Ela dá a noção de como é impossível calcular em termos de metros o tamanho do buraco. Mas, pelo Cálice Sagrado, não é que o corpo da Juliet, estendido no fundo desse vazio, não está, como se poderia esperar que estivesse, completamente desfigurado? Não é que ele está até reconhecível? Cabeça, tronco e membros, essa combinação que jamais alguém poderia antecipar como sendo adequada para ser utilizada nessa ocasião, não é que essa é a forma mais metódica de descrever o objeto que está aparecendo na nossa frente -- cabeça, tronco e membros? Súbito alarme: ela tosse. Pelo amor que você tem a Cristo, minha filha, você acabou de tossir? Será que em se tratando de Lost eu posso usar um critério parecido com o que uso para saber se eu estou dormindo ou não? Quando eu estou deitado, num momento de aurora em que os meus pensamentos se distorcem em sonhos sonhados na noite anterior e notas mentais que eu preciso fazer para o dia que está começando, às vezes eu fico sem saber se eu ainda estou dormindo ou se o meu corpo já despertou. O critério que eu uso é o do espirro. Só espirra quem está acordado. Ou, no mínimo, se a pessoa sabe que espirra, então ela já não está mais dormindo. E a tosse? Eu gostaria de saber sobre a tosse. Será que tossir é prerrogativa dos vivos? Será que uma pessoa que evidentemente esteja morta, uma pessoa que, a não se contrariar toda a verossimilhança, perdeu a vida, senão antes (quando batia com a cabeça em paredes estreitas), quando atingiu o fim de um poço assombroso de fundo, para o qual essa pessoa, é bom lembrar, foi atraída por uma força magnética capaz de derrubar aviões; será que essa pessoa pode tossir? Tossir ou não tossir, eis a questão. O fato é que não dá para dizer se atualmente ela está viva. Ela encontrou a bomba intacta no chão, maldisse todos os diabos e bateu com uma pedra que ela arranjou até que uma enorme explosão branca tomasse toda a tela. 

terça-feira, 12 de maio de 2009

8 1/2 - Frederico Fellini

Não. Não. Não, não, não. 

Não!

Não! Não! Nã, nã, nã, não. Não. 

domingo, 10 de maio de 2009

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

Desde os meus 14 anos eu já devo ter lido este livro umas dez vezes. Daí para mais. Recentemente eu conversei com uma pessoa que me disse buscar na literatura e nos filmes e nos seriados alguma coisa com que ela pudesse se identificar; isso, se eu me lembro bem, como um meio de se conhecer melhor. Eu sempre encarei essas mesmas distrações do espírito daquele jeito mais ingênuo e trivial, como puras distrações. Até como mecanismo de oblívio, para ser franco. E eu volto ao ponto inicialmente sugerido, o de que esse possivelmente é o livro com o qual eu estou mais familiarizado, porque eu não teria como deixar de notar que Brás Cubas é um personagem especial para mim.

Mas tirando algumas coincidências de biografia, digamos assim, que eu costumo mencionar numa conversa ou outra, e algumas passagens do estilo, que poucas pessoas ordinariamente criticam, eu não saberia dizer o que é no Brás Cubas que me dá essa tranquilidade toda. Eu gostaria muito de poder dizer que o Brasinho representa uma mínima parcela a que nenhum brasileiro, por mais desprendido que seja do Brasil, conseguiria renunciar da sua própria personalidade. Isso, no entanto, seria falso; e, o que é pior, generoso demais com os brasileiros. Talvez ele não represente a mínima parcela da personalidade a que nenhum brasileiro conseguirá renunciar, por mais desprendido que seja do Brasil, mas a máxima representação dos brasileiros mais desprendidos. Um brasileiro autenticamente desprendido, em todo caso, poderia querer não perder tempo com ele e nem como ele.

Per un pugno di dollari - Sergio Leone


Eu nunca consigo cumprir os requisitos que o indivíduo deve cumprir para ser considerado um fã que se preze de alguma coisa. Nunca. Em relação a nada. Mas, pôxa vida, eu tinha que ter alguma força de vontade minimamente laboriosa. Querendo pelo menos conhecer as coisas que alguém deve conhecer para melhor apreciar De Volta para o Futuro, eu deveria ter assistido a esse filme antes. 

Changeling - Clint Eastwood


Um filme que se salva por mostrar algumas pessoas andando de patins dentro de uma empresa? Não, um filme que tenta se salvar mostrando umas pessoas andando de patins dentro de  uma empresa não se salva. Ou não se deve salvar. 

Here Comes Mr. Jordan - Alexander Hall

Eu gostaria de implicar com a atuação de Claude Rains como o alto funcionário da corporação angélica que precisa lidar com o espírito desencarnado de um lutador de boxe. Eu gostaria de implicar também com esse lutador de boxe. 

Imdb

segunda-feira, 4 de maio de 2009

The Picture of Dorian Gray - Oscar Wilde

Deve ser a terceira ou a quarta vez que eu leio este livro. Só dessa vez é que eu consegui pensar numa maneira completamente engraçada de cantarolar o nome de Dorian Gray -- seguindo o iniciozinho da abertura de Fidelio. Na minha cabeça fica assim:

Dorian, Dorian, Dorian Gray!
Dooooriannnn, Dooooriannnn...
Doooorian Graaaay, Doooorian Graaaay...
Dorian, Dorian, Dorian Gray!
(segue até o fim do jeito que a pessoa quiser)



A trilha sonora oficial do livro, em qualquer caso, começa com Lohengrin e termina com Tannhäuser. Beethoven é elogiado em algum momento. Mais para o final, Dorian Gray toca um noturno desconhecido de Chopin. Desses é que eu me lembro.

***

Leio na introdução de Peter Ackroyd que o Wilde teria se desgostado com a recepção que o público inglês deu ao livro na época. Para a perplexidade do autor, não se achou o livro suficientemente moral. Parece, no entanto, que não houve a necessidade de se mutilar editorialmente a história para torná-la comercialmente viável. Ao contrário: Wilde até aproveitou para acrescentar alguns capítulos à versão original - acho que desenvolvendo mais a subtrama da Sibyl Vane e do seu irmão, James. 

Uma bela informação que eu até agora desconhecia, ou de resto uma bela frase que eu vou me esforçar para lembrar de agora em diante, é a que está numa das notas ao texto. "Some critics have identified Wilde entirely with Wotton, but it is worth recalling Wilde's own remarks on the subject: 'Basil Hallward is what I think I am: Lord Henry what the world thinks of me: Dorian what I would like to be -- in other ages, perhaps.' (Oscar Wilde to Ralph Payne, 12 February 1894)"

Resumindo a coisa para quem não conhece os personagens, Basil Hallward é o grande artista que parece ter encontrado um novo ideal de beleza personificado no jovem Dorian Gray; Lord Henry Wotton, o dândi cínico que fica apreciando a psicologia de todas as coisas, exceto do vulgar; Dorian Gray, o belo que nunca envelhece e que se degenera moralmente apenas nas tintas de um quadro - por força de pacto com o demônio, devo acrescentar. Então o Wilde seria tudo isso: um artista se deparando com uma nova maneira de representar a Beleza e de desencadear as sensações que ela produz; um rico que pode olhar para a sociedade e que pode desprezá-la, quando não por asco físico, por capricho intelectual; e um cara de fuinha que só se importava em não levar um susto quando se olhasse no espelho. Alguém que deveria mesmo escrever um livro e explicar melhor o que ele tinha em mente, portanto. 


Ser falado e não ser falado: uma das do Lord Wotton.  

domingo, 3 de maio de 2009

Fido - Andrew Currie

Eu acho que se você fizer um filme de zumbis, realmente você não pode ficar tentando preservar toda criancinha e toda velhinha que aparecerem na história de serem mordidos e de se tornarem mortos-vivos. Os espectadores não ficarão chocados e nem haverá estarrecimento. Toda a graça desse tipo de filme, no fundo, está precisamente em ver aquelas pessoas que você achava adoráveis se tornarem maníacas comedoras de carne humana, e as pessoas que você achava covardonas, frias aniquiladoras. Se bem que não é bem isso que acontece em Fido: as pessoas que se tornaram zumbis no decorrer da história já eram mais ou menos antipáticas desde o início; e o covardão por quem ninguém daria nada, embora tenha pegado em armas para tentar fazer alguma coisa de útil, acaba é levando um tiro. 

O filme não segue mesmo o estilo das histórias de zumbis, o esquema geral de uns adolescentes engraçadinhos sendo trancados numa velha mansão ou o de um policial transtornado querendo resgatar o filho que está com a ex-mulher. 

Uma coisa bastante curiosa é a época da história. Não estou me lembrando agora de qualquer referência a datas, mas a ambientação é claramente a dos anos 50. Isso está nos carros, nas roupas, nos penteados, no vídeo que é exibido nas escolas para contar aos alunos como foi que o mundo se tornou um lugar onde as pessoas que morrem se tornam imediatamente zumbis irascíveis, só tornados servos molengas e educadinhos com a tecnologia desenvolvida pela grande corporação Zomcon. 

Se passar nos anos 50, é apenas natural, faz o filme oscilar entre os elementos obrigatórios dos filmes de zumbis e aqueles dos filmes que se passam nos anos 50. O ataque final dos zumbis, por isso, acontece numa fábrica imunda e escura, como em qualquer filme de zumbi, mas a influência dos anos 50 também obrigou o roteirista a apresentar um pequeno ataque num parquinho gramado no meio de um subúrbio de casas sem muros, num dia de primavera. A influência mais evidente dos anos 50, no entanto, está na trilha sonora. Que para o deleite geral, e ignorando meros aspectos cronológicos, tem também Put a lid on it, do Squirrel Nut Zippers

Pontos para as criancinhas treinando tiros e cantando: "In the brain and not the chest. Headshots are the very best!

sábado, 2 de maio de 2009

Rage Against The Machine



Junto com ter vontade de aprender a jogar futevôlei, o fato de eu gostar de Rage Against The Machine será um dos primeiros para os quais eu terei que dar alguma explicação satisfatória aos arcanjos que vierem me interrogar no dia do juízo final. O que eu poderia dizer a eles quanto a essas duas acusações tão graves e perturbadoras, talvez nem com toda a eternidade à minha disposição eu conseguiria encontrar uma desculpa minimamente razoável. Minha opinião sempre foi a de que deveria ser tratada sem misericórdia qualquer pessoa que, no juízo final, por qualquer motivo pudesse ser colocada na mesma sala que 99% dos membros dos diretórios acadêmicos da América Latina e Eri Johnson.  Mas o fato é que eu gosto da banda. Musicalmente ela representa o que de mais elaborado eu conheço na linha hardcoree politicamente ela representa uma visão de mundo em relação à qual eu consigo lá fazer vista grossa de vez em quando. Um boné que eu tinha com o nome da banda, aliás, era um dos meus favoritos. A camisa que eu tenho, pelo menos, não é uma das milhares com a cara do Che Guevara. 



O ponto delicado de se falar do RATM é o do interstício de alguns anos em que Zach de La Rocha brigou com a banda, quando então nasceu uma pequena monstruosidade chamada Audioslave. Normalmente eu ficaria feliz de saber que Chris Cornell se levantou da modorra em que ele estava depois do fim do Soundgarden, ainda mais se fosse para se juntar a músicos por quem eu já tinha uma admiração tão grande. Eu disse que normalmente eu ficaria feliz em receber uma notícia como aquela porque, desde o início, quando os rumores começaram a se materializar, alguma coisa imprecisa me fez desconfiar de que a nova banda não daria certo. Não sei analisar o fenômeno da minha desconfiança do ponto de vista técnico-musical. O que eu sei é que já no primeiro álbum, se eu não me engano, eu via os membros do Audioslave em vídeos com fogos de artifício e carros: sinal de que meus receios se confirmavam. 




Sim, podem acrescentar "fica mexendo as mãos como um rapper" ao conjunto das coisas que vocês sabem de mim. Put your hands up like this, yo

For a few dollars more - Sergio Leone

O problema de assistir a esse filme sozinho é que quando você levanta para pegar sorvete e volta para a sala, você tem que improvisar e ficar mirando nas almofadas para acertar os tiros que você finge que está dando como se a sua mão fosse uma arma. O bom de assistir a esse filme sozinho é que ninguém vai estar lá para ver esta cena infeliz. 

Minha distração na hora de escolher o dvd no site da locadora me fez pegar um filme que estava na minha lista, mas que naturalmente deveria ser alugado só depois que eu já tivesse alugado o primeiro da série. Distração que continuou me confundindo quase até agora, aliás. Escrevendo o título do post eu fiquei me perguntando como seria chamado o filme de sequência. "Ainda mais alguns dólares?" Que idiota. Eu sabia que tinha mais alguma coisa do Sergio Leone e do Eastwood, alguma coisa com os mesmos personagens, eu quis dizer. Constato agora que essa coisa a mais é a trilogia "dos doláres" ou "do homem sem nome", e que For a few dollars more está na segunda posição cronológica. 

O traço distintivo do filme, em todo caso, é a aspereza impaciente dos personagens contrastada com a parcimônia tranquila com que as cenas são mostradas, lentamente e à distância. Por aproximação de ideias nós poderíamos dizer que também existem bons diálogos. O melhor seria dizer que os personagens intervêm de vez em quando para externar o que está passando pela cabeça, e que isso é feito de maneira agradável a um tipo especial de sensibilidade. Quando um viajante falador resolve se meter na vida do Col. Douglas Mortimer, por exemplo, dizendo que aquele trem não pararia na estação que ele tinha mencionado, Mortimer simplesmente diz, olhando um pouco pela janela, numa voz de indescritível resolução e confiança: This train'll stop at Tucumcari. E ele faz o trem parar. Ele salta. O funcionário da empresa não ousa reclamar. 

Estou esperando para ver se eu me lembro com quem o Clint Eastwood novinho se parece. 

Lawrence of Arabia - David Lean

I remember thinking that those were other times in the history of mankind when I saw Lawrence riding his motorcycle without any sort of helmet -- those times being free of many of our modern worries, yes, but also a bit sillier. I mean, the use of helmets should be voluntary especially among those planning in having accidents, such as Lawrence himself. But whenever I see people discussing the morals of forcing riders to use them, and I've seen it more than once, I always get to much mesmerized by the plain fact that the floor is way harder than our heads to actually say anything out loud. In that regard, who would have guessed that not anybody in the world is as lethargic as I am? This I found out at wikipedia when I was looking for some information I don't even remember right now:

"One of the doctors attending him [Lawrence] was the neurosurgeon Hugh Cairns. He was profoundly affected by the incident and consequently began a long study of what he saw as the unnecessary loss of life by motorcycle dispatch riders through head injuries and his research led to the use of crash helmets by both military and civilian motorcyclists. As a consequence of treating Lawrence, Sir Hugh Cairns would ultimately save the lives of many motorcyclists."

***

Anyway, I was very precautious to sleep at least twice during the movie. I kept waking up, though. That ruined a couple of dreams. 
 
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