sábado, 28 de fevereiro de 2009

Vertigo - Alfred Hitchcock

Conturbado na forma de lidar com o que já passou, profundo, emocionalmente devastado, um homem tornado louco e obcecado -- e depois da segunda cena do filme, sumamente chato.  Este é James Stewart no papel do detetive aposentado John Ferguson. 

Terá sido intencional e cuidadosamente pensado, eu sei, que na segunda cena do filme ele ainda apareça tranquilo, bem disposto e brincalhão com a própria desgraça, para só depois disso aos poucos se transformar num miserável monomaníaco. A força com que as pessoas podem mudar de caráter quando submetidas a eventos traumáticos e tal, eu não questiono que isso é muito bem explorado e artisticamente demonstrado nessa história. Eu diria até que só depois da segunda metade do filme é que o Stewart passa a se comportar de uma maneira mais excêntrica do que normalmente uma pessoa simultaneamente apaixonada e com medo altura se comportaria. E enquanto as coisas ainda seguem nesse pé, não é impossível, eu calculo, que sentimentos de empatia e solidariedade possam nascer em relação a ele.

Mas eu não cheguei a tanto. Quando ele começa a perseguir a mulher que ele tem a impressão de ser muito parecida com uma mulher que ele achava que tinha cometido suicídio, mesmo as suas suspeitas se confirmando e essas duas mulheres sendo realmente a Kim Novak , eu meio que perdi a paciência. Ele insistindo nisso me deixou até irritado. E vejam se eu não tive bons motivos. Apenas para situar quem não conheça a história, e passando por cima de um monte de coisas, Stewart tinha mais ou menos visto a mulher por quem ele estava apaixonado se jogar de um campanário e se esborrachar em cima de umas telhas de argila, segundo me pareceu. Essa mulher sendo a esposa de um velho amigo de faculdade que o tinha contratado justamente para segui-la e para descobrir se ela estava sendo possuída pelo fantasma da sua tataravó, Stewart meio que deixa o assunto para lá depois de um tempo. Só que depois ele resolve se deixar enlouquecer, atormentando-se com sonhos nos quais alguma coisa parece atraí-lo para a morte. Chega ser internado num sanatório, onde ele se recusa a tratar a sua moléstia com sessões terapêuticas de Mozart. Apesar disso, e contra toda a verossimilhança, cura-se. Ou assim dá a entender. Depois que ele sai do sanatório tudo que ele faz é ir a lugares que o fazem lembrar da sua falecida amante. Fica nessa até encontrar uma mulher parecida com ela. Daí ele começa a mandar essa mulher se transformar fisicamente na outra. Primeiro ele a força a usar as mesmas roupas que a outra, o mesmo sapato. Ele então manda que ela faça um tingimento no cabelo. Chega a reclamar que o topete não está igual. A cada nova exigência ele fica dizendo por favor, por favor, em que isso pode te incomodar, querida? 

Quer saber, incomodou a mim, car$¨*1!  

Obra-prima de um mestre, interpretação brilhante, blá blá blá.

The Restaurant at the end of the Universe - Douglas Adams


Seguindo na série, agora para interrompê-la por tempo indeterminado. Me vejo obrigado a cessar o acompanhamento que eu vinha fazendo das aventuras de Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian e Zaphod Beeblebrox (perambulando pelo Universo a bordo da Heart of Gold) por dois motivos. O primeiro, mais trivial, é que eu ainda preciso comprar os outros livros da sequência. O outro motivo é que enquanto eu estava lendo The Restaurant eu fiz uma encomenda de alguns livros que já chegaram e que eu pretendo ler antes de voltar ao Douglas Adams.

Em todo caso, como eu já esperava, a leitura desse livro foi bastante divertida. Oscilando entre uma visão pessimista e sarcástica da Existência Universal, que o livro mostra tão bem, e a minha própria visão ordinária sobre o assunto, declaradamente infantilizada e esperançosa, acima de tudo eu me diverti com o estilo do autor. 

O livro começa do exato ponto em que o Guia termina, os personagens escapando miraculosa e acidentalmente vivos de uma aventura certamente mortal para todas as outras criaturas do universo. Zaphod se diz esfomeado e pede que o computador da nave os conduza para onde possam comer alguma coisa. Mas se eu bem me lembro, antes de conseguirem a refeição desejada eles escapam miraculosa e acidentalmente vivos de várias outras aventuras certamente mortais para todas as outras criaturas do universo.

 Numa delas Zaphod é empurrado para o que parecia ser o autêntico Total Perspective Vortex, mas que na verdade era um Total Perspective Vortex postiço. Aquele significaria a morte certa; esse último, por um arranjo inusitado e favorável, significou apenas a confirmação do que Zaphod já sabia: a confirmação pelo Cosmos de que ele era um cara legal. 

O autêntico Total Perspective Vortex nada mais é do que uma espécie de Aleph, só que maior e aparentemente estático. Pelo que eu me lembro o Total Perspective Vortex não mostra a reunião dos séculos e milênios num único instante, como eu acho que eu me lembro do Aleph fazendo. É um lugar, de toda maneira, de onde você pode observar toda a infinitude do espaço intergalático referenciada ao espaço que você ocupa nessa imensidão -- um lugar conhecido por enlouquecer à demência todas as pessoas que entram nele.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

The Hellacopters - Slow Down, Take a Look



Ainda não vai ser agora que eu vou começar a diversificar um pouco o material que eu costumo postar aqui. Isso eu farei em breve, no entanto. E quando chegar a hora, escrever um pouco sobre o que eu gosto em matéria de música provavelmente vai virar rotina. Por enquanto, fica essa versão ao vivo muito boa que eu ainda não conhecia.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Notorious - Alfred Hitchcock


Mostrando o Rio de Janeiro como uma cidade chata, uma cidade que só tem a vantagem de ser perto de Petrópolis. E isso unicamente porque a estrada de Petrópolis tem curvas que podem servir a uma organização germanófila como meio de eliminação não tão acidental de inimigos.

Não sou eu, em todo caso, que estou dizendo que a cidade foi retratada assim. Basta ver o filme. Que ao contrário de praticamente todos os filmes estrangeiros que sequer mencionam o nome da cidade,  furta-se a mostrar pessoas desfilando entorpecidas pelas ruas ou coisas do gênero. No ápice do seu entusiasmo Cary Grant só conseguiu dizer que it's not a bad town, you know, whatever.  Devo dizer que o "you know, whatever" eu acrescentei para efeito de efeito, mas o resto foi dito de verdade, e com tanto esplim que se Cary Grant vivesse nos nossos dias ele teria ele mesmo completado a frase.

Agora, já que é para falar de coisas que só têm uma única qualidade incidental, como é o Rio de Janeiro em relação à sua proximidade com a mortífera estrada de Petrópolis, sou obrigado a dizer que a única qualidade incidental deste filme é o escárnio contido que ele faz da cidade. O mais é algo de bastante sonolento. O vilão com quem a mocinha se casa não por amor  é um covardão que corre para o colinho da mãe ao primeiro sinal de problema. Mãe essa que se arrepende das suas malfeitorias logo na primeira oportunidade de arrependimento. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Trois couleurs - Krzysztof Kieslowski

Confirmo que se a sua preguiça impediu que você assistisse a essa trilogia, provavelmente foi a ação de um primitivo mecanismo de defesa fazendo a sua proteção. No meu caso, atípico em tudo por não nada ter a ver com qualquer espécie de preguiça, o mecanismo de defesa que vinha atuando era a limitação do acervo da minha locadora. Sempre que eu, todo voluntarioso, pensava em alugar esses filmes, um deles acabava por não estar disponível. Eu lamentava essa circunstância mal sabendo que eram os deuses me mandando um sinal de "acautelai-vos!". Mas uma vez tendo essa barreira desmoronado, toda a minha fragilidade cinematográfica serviu de pretexto para que as tropas franco-polonesas invadissem o meu território e me levassem alguns tesourinhos que eu tinha guardados.

***


O pior é que essa trilogia começa logo com o pior dos três filmes, apenas marginalmente evoluindo para algo que chega ao compreensível e que estaciona no passável. O dois é o melhor. A grande qualidade do um é a trilha sonora, que parte dela nós vemos ser composta ao longo do próprio filme. E também essa franjinha da Juliette Binonche. 

No departamento das coisas que só acontecem em filmes franceses, uma garota de programa entra no apartamento da Juliette para agradecê-la pelo fato dela não ter assinado uma petição de expulsão do prédio, como pretendido por todos os outros moradores.  Mas em vez de levar  um biscoitinho ou qualquer coisa, principalmente se dando por satisfeita só de entregar a tal lembrança, a garota entra no apartamento, fixa-se num lustre azul, depois pergunta à Juliette o que tinha acontecido -- com isso querendo dizer, bastante textualmente: "o que aconteceu? você não parece uma mulher que foi traída ou abandonada!". Agora eu não vou me lembrar de outros surtos de percepção inconveniente dessa mulher, mas me recordo de que em algum ponto ela liga para a Juliette em plena madrugada, desejando que a nova amiga lhe ofereça conforto mental no momento em que ela se depara com o seu pai na plateia do bar de strip-tease em que ela trabalha. 

A trilogia não é muito linear, devo avisar. Os personagens se encontram apenas no final. As coisas acontecem no eixo França-Polônia-Suíça. 

Mas deixemos a viúva Juliette e os seus tombos enquanto tenta se recuperar da morte do marido e da filha. Deixemos as partituras de um grande concerto serem perdidas e reencontradas. Deixemos os misteriosos flautistas jogados na rua, que a qualquer momento uma mulher dirigindo um carro de luxo vai aparecer para dar uma carona a eles. Deixemos as velhinhas dificultosamente reciclando garrafas de vidro num enorme trambolho verde. Deixemos todas as correntinhas, que, por Deus, eu odeio corretinhas.

Deixemos tudo isso para ir ver como anda o nosso amigo penteado Karol Karol. 

***





Quem não se sentiu triste ao ver a Julie Delpy basicamente sendo uma pessoa terrível levante a mão.

O julgamento do divórcio entre a Dominique (Delpy) e o Karol Karol mostra como os advogados franceses ainda usam becas quando estão oficiando no tribunal. O grau de civilização que eu vejo nisso é o mesmo que eu vejo num pajé yanomami se pintando para executar a dança da chuva -- a dança da chuva, no caso, sendo o ato mais plausível.

Assisti a um pedaço das explicações que o diretor dá no material extra do dvd -- como se precisasse ser explicado que uma andorinha derrubando material fecal em cima da pessoa é uma coisa ominosa. Karol Karol, de todo jeito, vive cada um dos infortúnios que a sua condição de alvo de excrementos de passarinhos poderia sugerir que ele iria viver. Para começar, perde a sua bela esposa num processo judicial e perde também todo o seu dinheiro. Vira maestro de uma orquestra que só tem um instrumento: um pente. Isso mesmo: um pente. Num golpe de sorte e de esperteza, consegue fugir para a Polônia dentro de uma mala de couro que se perde e que vai parar nas mãos de traficantes. Antes disso, ele ainda fica sem resposta quanto a uma mágica que não dá para acreditar que aconteceu de verdade e que envolve nada menos que treze cartas do baralho. 

Volto a dizer que esse é o melhor dos três filmes. É o mais divertido. É o que menos tenta transformar a pessoa que você já era quando você se sentou para assistir ao filme. E o bom é que ele não chega a estragar e aniquilar tudo que a Julie Delpy representa. 

E podemos ficar tranquilos que Karol Karol vai se encontrar. Numa espaçosa sala de Varsóvia, quem sabe. Talvez andando num Volvo. Que seja mandando congelar bananas, atento ao que dizem os especialistas. 

***


Dos três, este é o que mais tem juízes aposentados espionando as ligações telefônicas dos vizinhos. E o que poderia ser apenas inverossímil, pela força incoercível de um filme francês, se torna também um tratado audiovisual sobre as angústias escondidas por trás da aparente rotina de amenidades de cada um. 

E já que estamos aqui, vamos nos perguntar o que há de errado, afinal, com as pessoas se sentarem numa mesa iluminada de bar para falar sobre se o Super-Homem tem, ou não, um super senso de humor? Por que elas precisam sempre se sentar em recantos lúgubres de cafés isolados e lá ficarem ensimesmadas até que alguém apareça dizendo "eu preciso te ver". Kieslowski não duraria um dia numa equipe de roteiro de sitcoms, isso eu posso garantir.

A boa notícia para as pessoas que fazem provas é a seguinte: se vocês por acaso deixarem cair um livro no chão, e isso por acaso acontecer um dia antes do dia da prova, na página em que o livro se abrir estará a resposta de uma questão da prova. Isto é, se o livro cair com alguma página aberta, devo imaginar. 

Nick and Norah's Infinite Playlist - Peter Sollett


Michael Cera é um sujeito legal a mais não poder. Depois de passar por maus bocados com a chatinha da Juno, cosmicamente era preciso que ele conhecesse a Norah. Está aí um belo jeito de se organizar a sociedade.   

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Volunteers - Nicholas Meyer

Mais um item para lista de sobrevivências improváveis de Tom Hanks: sobrevivendo na Tailândia como membro do Peace Corp, ao mesmo tempo combatendo guerilheiros comunistas, agentes ensandecidos da C.I.A e caudilhos narcotraficantes. Tudo isso, notem, tendo que usar por mais de uma vez o mesmo dinner jacket. Sorte ele ter John Candy ao seu lado. 

No country for old men - Ethan Coen & Joel Cohen


Não é da sua conta. Qualquer coisa que você perguntar sobre esse filme não é da sua conta. Você não viu ninguém reservando um quarto no motel, você não viu ninguém saindo andando de um acidente de trânsito. Você não viu ninguém cruzando a fronteira vestindo apenas um roupão de hospital. Você só é o contador de uma corporação do crime que por cautela achou uma boa ideia dar um rastreador para que uns mexicanos também pudessem perseguir um caçador que encontrou uma mala de dinheiro no deserto -- e com isso você nem quis ofender pessoalmente o sanguinário que originalmente havia sido contratado para essa caçada. Você é um xerife que não irá extrapolar os limites da sua jurisdição. Você é só um homem de negócios que pode a qualquer momento sacar catorze mil dólares de um caixa eletrônico e que não precisa ser assassinado. Você é só uma velhinha que conhece zero pessoas em El Paso, Texas. Você só está cumprindo a sua palavra quando você tira a vida da mulher cujo marido não quis negociar com você. Você dará um pouco da sua cerveja a um andarilho ensanguentado. Você tentará evitar que os cadáveres que você foi contratado para transportar caiam no meio da estrada. Você perguntará polidamente qual foi o sonho que o seu marido aposentado teve. Você dará a chance das pessoas escolherem cara ou coroa. Você fará um café novo pelo menos uma vez por semana, ainda que tenha sobrado alguma coisa.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Valentín - Alejandro Agresti


Um filme feito para conquistar a platéia no que ela tem de suscetível a doçuras. Me comoveu enternecidamente, por exemplo, o velhinho impaciente se levantando e indo embora quando o padre comunista começou a lamentar a tragédia que recaiu sobre Ernesto Guevara. Foi um belo olhar de desprezo, muito digno e franco. Muito impaciente. E sobretudo, muito merecido. 

Eu gostei da narração do Valentín. Torno a dizer o que eu sempre falo sobre filmes com narração: se é para fazer o negócio, que se faça até o final. Passando, naturalmente, pelo meio. Isso de só ter narração no início e depois no final é que não dá.

Minha cidade preferida em todo o mundo, Ushuaia, é mencionada. E só por isso eu já recomendaria. 

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Bubble - Steven Soderbergh


Setenta e quatro minutos: estritamente do ponto de vista da falta de enrolação, eu arriscaria dizer que é quase um verdadeiro prodígio. Mas quando alguém consegue veicular a propaganda de um determinado filme como sendo mais uma experiência do diretor, então o caminho parece que fica liberado para se empurrar uma história monótona e bobinha goela abaixo de todo mundo. E aí não resta muito o que fazer, senão ingerir isso como uma pílula de Vicodin que nos remediará de tudo.  

Só que no meio do caminho uma menina morre e uma quantidade desnecessária de bonecas é mostrada sendo fabricada. Com esse aspecto bisonho aí do pôster, ainda por cima, geralmente descabeçadas. 

A trilha sonora parece ser composta exclusivamente por um violão sendo tocado sem muito virtuosismo, mas conseguindo bem dar o efeito da solidão repetitiva e inescapável dos personagens. 

American Splendor - Shari Springer Berman & Robert Pulcini


Eu não conheço nada de histórias em quadrinho para poder falar que fiquei emocionado ou decepcionado com a mera existência deste filme. Acho que teria sido massa, no entanto, se eu fosse um fanático de longa data pelas histórias de Harvey Pekar e me lembrasse das entrevistas vitriólicas que ele deu para o David Letterman. Mas apenas lembrar, eu disse que eu gostaria apenas de me lembrar dessas entrevistas. Por pura associação ao Jô Soares eu perdi a paciência com entrevistadores engraçadinhos e entrevistados metidos a besta, de modo que se a alternativa for assistir a uma coisa dessas na televisão, eu prefiro continuar com os meus solilóquios, os quais reproduzem exatamente aquele cenário, mas com a vantagem do silêncio. 

E por que eu não assisto a mais filmes com a Hope Davis? Ela sempre está bem no papel de esposa dedicada a homens desajustados (em About Schmidt ela se casa com aquele idiota que faz investimentos num esquema pirâmide); "a notorious reformer", como ela própria diz. E dança como se um choque elétrico estivesse percorrendo o seu corpo e a única forma de interrompê-lo fosse perder todo o controle sobre o movimento dos seus braços, mantendo a cabeça levemente imóvel, enquanto seu quadril vai se abaixando e levantando e indo de um lado para o outro. E é limitada politicamente, em matéria de comida, por uma série de desordens. E faz diagnósticos instantâneos de perturbações mentais. 

sábado, 21 de fevereiro de 2009

There will be blood - Paul Thomas Anderson

Apesar do título e do jeitão Deadwood, o filme é bem menos beligerante do que se possa imaginar -- basicamente porque ninguém cruza muito a sério o caminho do Mr. Daniel Plainview. Assassinatos com as próprias mãos, que eu me lembre, são apenas dois. Esse número é quase inexpressivo em comparação com a rotina  na espelunca de Al Swearengen. Posto que Al não fosse exatamente um prospector, como Daniel era, ainda assim ele parece ser uma boa referência em termos de inteira malignidade. Tudo ali naquele período, naquela região, quero dizer. E nem me venham com Contratador João Fernandes, por favor, que para ser maligna de verdade a pessoa tem que pelo menos poder pensar em chamar os outros de cocksucker.  

A trilha sonora me chamou a atenção no que ela lembra muito a trilha sonora de Lost. Muitos tambores, chocalhos e arranhados de violinos. 

Paul Dano acertou. Ou, cá entre nós, ele foi acertado. Eu me pergunto se eu estarei dizendo muito se eu disser que a cena da pista de boliche entrou imediatamente na minha lista de cenas memoráveis. Acho que não. Uma pessoa pode estar querendo dizer uma porção de coisas quando ela diz que alguém foi acertado numa cena que se passa numa pista de boliche. Que alguém tenha sido acertado, por exemplo, por um formigueiro que havia se instalado no local, e que num súbito ataque produziu um esguicho de formigas predadoras diretamente no pescoço da vítima. Ou por um meteorito de órbita lamentavelmente irregular. Um copo de vidro que alguém que estava passando pela rua atirou pela janela pode muito bem ter acertado outro alguém que estivesse dentro da pista. Hélices de ventiladores desparafusados também são objetos propensos a atingir algum infeliz. A gravidade funciona até para as maçãs, ou não? Eu lavo as minhas mãos. Não vai ser por minha causa que o suspense deixará de se prolongar, isso eu posso dizer. 
 
Mas a novidade é que eu finalmente vou assumir que eu gosto da ideia de sair pelo deserto caçando pequenos animais, dando tiros de espingarda, conspirando contra pequenos proprietários. 

Ghost Town - David Koepp

Em matéria de casting ninguém pode reclamar. Quem melhor do Ricky Gervais para interpretar um dentista mal-humorado que se recusa quase até o fim a ajudar as pessoas mortas que aparecem para ele depois que ele tecnicamente morre e ressuscita na mesa de operação? E eu posso dizer, como argumento de reforço provando que R.G é a pessoa certa para o papel, que esse dentista veio para Nova Iorque depois de ter se cansado de morar a vida inteira numa cidade chamada LONDRES? Se for verdade, em todo caso, que se você se cansou de Londres, você se cansou da vida, então Nova Iorque parece ser um bom lugar para você começar a contatar falecidos. Mas, insistindo, se você conseguir pensar em alguém melhor para fazer isso, você vai chegar ao ponto de dizer que o R.G terminantemente não presta para o serviço? A mesma coisa com o Greg Kinnear: o sujeito é a representação corpórea do egoísmo divertido, o típico fantasma que iria trapacear todos os outros fantasmas e obter para si toda a atenção do único homem vivo que consegue ver e escutar as almas penadas. E qualquer dose de Téa Leoni sempre vai bem, de modo que o elenco não é o problema. 

O problema também não é a falta inovação suficiente no que diz respeito a filmes como Ghost e The Sixth Sense. Em Ghost Town, é verdade, mesmo os fantasmas que perambulam pela Terra antes de ascenderem aos céus com a solução de suas pendências pessoais, messmo esses são um pouco chatinhos e sem graça. Nenhum dos casos é de vendetta irascível como o daquele sujeito do Metrô que ensina o Patrick Swayze a transubstanciar. Um dos mais atormentados espectros que aparecem para o Ricky Gervais, por exemplo, nada mais é do que um pai querendo que seu filho encontre um ursinho de pelúcia supostamente perdido -- esse pai sendo ninguém menos do que o Cameron do Curtindo a Vida Adoidado. Por aí se vê. 

Se, aliás, eu dei a impressão de que existe algum grande problema com esse filme eu peço desculpas. Entre os três ou quatro assumidos sketches de humor (Ricky Gervais contra a atendente do hospital; Ricky Gervais contra a médica; e alguns com Ricky Gervais contra Ricky Gervais), a história até que funciona. O dental humor tal como apresentado até que me faz parar para pensar se eu devo continuar sendo o anti-dentite que eu sempre fui.  

Fats Domino - The Fat Man

Rocknrolla - Guy Ritchie


Não convence a ideia de que existam criminosos brutos em Londres, imigrantes russos ou não imigrantes russos. E se algum dia alguém pudesse ser convencido disso, já seria um exagero fazer dois filmes a respeito. Snatch é o começo e o fim dessa tresloucada teoria.

Inland Empire - David Lynch


É meio que totalmente excepcional eu postar qualquer coisa sobre qualquer filme que eu não tenha visto pela primeira vez apenas alguns minutos antes. Eu não saberia dizer quantas vezes isso já aconteceu, se é que já aconteceu. O que me leva a quebrar essa regra é o fato de nós estarmos falando simplesmente de um dos filmes mais desconcertantes de todos os tempos. Sob todos os aspectos. Todas as vezes que você o assistir. Você e todos os membros de todas as espécies humanóides que vieram depois do homem de Neanderthal. Cegos e surdos inclusos. Não tenho medo de parecer  um jornalista desses que escrevem críticas posteriormente inseridas na própria capa do filme quando eu digo que Inland Empire é o filme mais desorientador que eu conheço. "DESORIENTADOR! - Neto Torcato, do blog Neto Torcato, lido enquanto escrito por Neto Torcato". E embora eu não esteja em condições medir o grau exato dessa desorientação, ser obrigado a acrescentar ao link do IMDB também o da Wikipedia me alarma um pouco para a questão de como a coisa parece ter passado dos limites.

Não diferentemente do que aconteceu na primeira em que fui assistir, também dessa vez uma aguda sensação de consciência me fez concluir que o que eu estava fazendo não era me interessar por uma história. Não era, tampouco, me interessar por personagens ou lugares que estivessem sendo mostrados -- à exceção daquele quarto altamente libertino onde um bando de mulheres confessam suas desinibições. Três horas depois, o que sobra desse filme não é muito mais do que a alentadora noção de se ter prestado homenagem a um homem louco. Que evite o filme quem se incomodar com essa noção. Que o evite, também, quem estiver procurando por uma espécie de loucura sempre aleatória e propositadamente desarticulada. Não é isso. David Lynch não chega a fazer a gentileza de só juntar fotografias em um único rolo de filmagem e convidar as pessoas para ver como elas ficam em sequência. Claramente ele cria a hipótese de que tudo ali, em alguma escala, faz sentido. Mas é bobagem transformar a busca por esse sentido numa questão de honra. Primeiro, porque as chances de você falhar são grandes. Segundo, porque moral da história é coisa de fábula. Por último, porque o filme é massa mesmo assim. 


The Hitchhiker's Guide to the Galaxy - Douglas Adams


They insisted that I should read this book. Now that I have read it, I could only wish everybody who thought I should read a really good book would insist that I did so with enough enthusiasm for me to go about and actually do it -- I myself of course being the judge of what is healthy enthusiasm and what is just plainly annoying insistence. Anyway, I remember hearing about this book a couple of years ago, I think when the movie premiered. Due to sheer lack of information about its coolness, only a couple of months later would I find myself watching it, and not even at the movies, but at home. Right now I can't remember what my opinion was: I probably enjoyed it, as it displays a sort of unlikely romance between cute Zooey Deschanel and rather okay Martin Freeman.

More recently, a friend gave me some useful piece of warning on one particular matter I had trouble figuring out. "Yes", I was told, "you will screw things up if by any event you come to read The Restaurant at the end of the Universe before you read The Guide." Not only these books are supposed to be part of a series, I found out, but the series itself happens to take place at a very peculiarly cohesive Universe. So I waited. It took a couple of weeks to get the whole thing done, first finding the book on Estante Virtual, then proceeding to payment, then holding my breath until the seller would confirm that he had received my money and finally being able to read the bloody book. Somewhere in between I got to find out that "pocket book" is a good expression:

But let's talk about plot. Let's talk about Arthur Dent, one of the last pieces of one gigantic and powerful computer once known as planet Earth. He's a nice bloke. One morning he wakes up to find out that his house is being demolished -- much like what he thought to be his planet, which was being demolished by builders of interstellar roads. Aliens, I mean to say.  And while this last case of demolition was handled with almost no resistance by earthlings in general -- since resistance towards a Vogon is useless  --, Arthur very bravely tried to stop the demolition of his little house. 

"Human beings are great adapters, and by lunchtime life in the environs of Arthur's house had settled into a steady routine. It was Arthur's accepted role to lie squelching in the mud making occasional demands to see his lawyer, his mother or a good book; it was Mr. Prosser's accepted role to tackle Arthur with the occasional new ploy such as For the Public Good talk, or the March of Progress talk, the They Knocked My House Down Once You Know, Never Looked Back talk and various other cajoleries and threats; and it was the bulldozer drivers' accepted role to sit around drinking coffee and experimenting with union regulations to see how they could turn the situation to their financial advantage."

I don't remember quite well if Arthur's house is destroyed on its own or if it simply dematerializes with the rest of the planet. What I know is that he somehow flees England and basically survives the worldwide Armageddon. His source of knowledge in this new chaotic scenario becomes this most strange book called The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, a compilation of travel tips from people -- or creatures, if you will -- familiar with the marvels of hyperspace traveling. And the point made couldn't be clearer: the Universe is a weird place. 

But other than the Life, the Universe and Everything, Douglas Adams does write about trivial things, such as language and demands.

"Another thing that got forgotten was the fact that against all probability a sperm whale had suddenly been called into existence several miles above the surface of an alien planet. And since this is not a naturally tenable position for a whale, this poor innocent creature had very little time to come to terms with its identity as a whale before it then had to come to terms with not being a whale anymore. 

This is a complete record of its thought from the moment it began its life till the moment it ended it.

Ah... ! What's happening? it thought.
Er, excuse me, who am I?
Hello?
Why am I here? What's my purpose in life?
What do I mean by who am I?
Calm down, get a grip now... oh! this is an interesting sensation, what is it? It's a sort of... yawning, tingling sensation in my.... my... well, I suppose I'd better start finding names for things if I want to make any headway in what for the sake of what I shall call an argument I shall call the world, so let's call it my stomach. 

Good. Ooooh, it's getting quite strong. And hey, what about this whistling roaring sound going past what I'm suddenly going to call my head? Perhaps I can call that... wind! Is that a good name? It'll do... perhaps I can find a better name for it later when I've found out what it's for. It must be something very important because there certainly seems to be a hell of a lot of it. Hey! What's this thing? This... let's call it a tail -- yeah, tail. Hey! I can really trash it about pretty good, can't I? Wow! Wow! That feels great! Doesn't seem to achieve very much but I'll probably find out what it's for later on. Now, have I built up any coherent picture of things yet?
No.
Never mind, hey, this is really exciting, so much to find out about, so much to look forward to, I'm quite dizzy with anticipation...
Or is it the wind?
There really is a lot of that now, isn't there?
And wow! Hey! What's this thing suddenly coming toward me very fast? Very, very fast. So big and flat and round, it needs a big wide-sounding name like... ow... ound... round... ground! That's it. That's a good name-- ground!
I wonder if it will be friends with me?"


***

" A sudden commotion destroyed the moment: the door flew open and two angry men wearing the coarse faded-blue robes and belts of the Cruxman University burst into the room, thrusting aside the ineffectual flunkie who tried to bar their way.
'We demand admission!' shouted the younger of the two men, elbowing a pretty young secretary in the throat.
'Come on,' shouted the older one, 'you can't keep us out!' He pushed a junior programmer back through the door.
'We demand that you can't keep us out!' bawled the younger one, though he was now firmly inside the room and no further attempts were being made to stop him.
'Who are you?' said Lunkwill, rising angrily from his seat. 'What do you want?'
'I am Majikthise!' announced the older one.
'And I demand that I am Vroomfondel!' shouted the younger one.
Majikthise turned on Vroomfondel. 'It's all right,' he explained angrily, 'you don't need to demand that'.
'All right!' bawled Vroomfondel, banging on a nearby desk. 'I am Vroomfondel, and that is not a demand, that is a solid fact! What we demand is solid facts!'
'No, we don't!' exclaimed Majikthise in irritation. 'That is precisely what we don't demand!'
Scarcely pausing for breath, Vroomfondel shouted, 'We don't demand solid facts! What we demand is total absence of solid facts. I demand that I may or may not be Vroomfondel!'
'But who the devil are you?' exclaimed an outraged Fook.
'We,' said Majikthise, 'are Philosophers.'
'Though we may not be,' said Vroomfondel, waving a warning finger at the programmers.
'Yes, we are,' insisted Majikthise. 'We are quite definitely here as representatives of the Amalgamated Union of Philosophers, Sages, Luminaries an Other Thinking Persons, and we want this machine off, and we want it now.!'

domingo, 15 de fevereiro de 2009

The Boy in the Striped Pyjamas - Mark Herman

Nem é um filme truculento do jeito que os filmes sobre o assunto podem ser, nem se aproxima da doçura redentora de A Vida é Bela: daí o choque. Em matéria de ambiente histórico, observo a possível falha de se colocar um oficial nazista sendo parabenizado por uma promoção na carreira numa festa onde só se toca jazz. A maioria dos filmes, Swing Kids talvez como o exemplo mais expressivo, retrata a aversão que a música americana despertava nessa esfera da sociedade alemã -- o que de resto só pode ser reconhecido como uma incongruência do filme na medida em que se aceita que a família lá seja uma família alemã, e não uma família britânica simplesmente transportada para a Alemanha por conveniência do roteiro. 

Tentarei falar sobre o final sem detalhar a trama, o que talvez eu consiga fazer dizendo que o final do filme é, sobretudo, a imagem indiciária da brutalidade pura e simples. E um artista pegando um objeto qualquer e o apresentando num contexto artístico, por mais estúpido que isso normalmente seja, pode surtir um belo efeito. No caso, a atrocidade representada pelo objeto é tornada ainda mais atroz pelo número e pelo fato de que se você parar e pensar você vai encontrar milhões de boas razões para que aquilo não acontecesse.

Saí do cinema pensando que eu deveria ter me informado melhor sobre o filme antes de separar uma tarde da minha vida para assisti-lo. Não foi nada frívola e transitória, essa parte. Mas já que é possível não ser sombrio o tempo todo, se me consultassem para inventar um outro título para o filme, eu sugeriria O Menino do Pescoço Tombado, que foi muito se o Shmuel tiver levantado o pescoço duas vezes em todas as entrevistas que ele teve com o seu amigo. O resto do tempo ele ficava olhando para o chão, com pequenos gestos de conformismo declarando que a vida no campo de concentração não é lá grandes coisas. Esquecendo um pouco que nós estamos falando de uma criança de oito anos numa droga de campo de concentração, fica a graça humana, eu acho.  

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

The Office e 30 Rock

Uma atualização expressa saindo -- e, no caso de 3o Rock, ainda incompleta. 

The Office já está no quarto episódio desde o retorno da quinta temporada. Terminamos deixando o escritório inteiro sabendo que Dwight e Angela estavam tendo um caso. Todo mundo, exceto quem mais poderia se interessar pela notícia: o noivo Andy Bernard. O que se seguiu a essa revelação foi a previsível permanência do Andy num estado de deplorável vergonha. Tomado por um sentimento de comiseração, Michael chama o Andy para dar uma volta no estacionamento e de dentro do seu carro, enquanto saía para uma reunião, o colocou a par da situação. O tempo todo Dwight deu sinais de que se orgulhava especialmente de humilhar o Andy. Essa rivalidade dos dois já é antiga. Logo quando o pessoal de Stanford chegou na filial de Scranton, eu me lembro, eles tiveram uma discussão muito engraçada, cheia de ofensas estúpidas aos carros de cada um e cheias de acessos de tosse. Duas crianças. Dessa vez a coisa foi mais longe. A solução encontrada foi a de duelar. 

Nos arquivos deste blog existe um pequeno estudo sobre essa perdida arte de duelar, pequeno estudo ao qual eu gostaria de acrescentar algumas observações. O ponto essencial de um duelo, me parece, não está na forma como ele termina, mas no conjunto de regras estipuladas no momento do seu começo. Como Andy pretende aniquilar a oficiosa participação do Dwight na sua futura vida conjugal com a Angela? "Through the use of force", ele ameaça. "That is very general", Dwight replica impassível. Coube, então, ao Jim diligenciar para que a coisa não ficasse muito sanguilonenta. E não ficou. O final do duelo, Andy colocando Dwight numa posição difícil com muita engenhosidade, me fez pensar no Tristão guerreando gigantes para salvar a honra da Isolda e posteriormente entregando-a para ser desfrutada pelo Rei Marcos. Que ele vencesse as batalhas só com uma adagazinha encantada, essa era a mentira com a qual eu nunca consegui me identificar. 

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O S05E12, pra mim, começou com a prank mais inverossímil que até hoje o Jim já fez com o Dwight. Ele amarrou um fio num poste da rua e, grudando tudo direitinho com silver tape, colocou a outra ponta no monitor do Dwight. Já deveria ter ficado claro, com um princípio desses, que o dia inteiro seria todo assim, de uma irrealidade total.  Michael e Dwight saem para praticar crimes de concorrência desleal contra uma pequena empresa cheia de clientes potenciais da Dunder Mifflin, o resto do funcionários literalmente abandonando suas funções para entrar num debate para saber se Hilary Swank is hot -- pelo visto, ninguém assistia a Barrados no Baile. 

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A vez do Dwight se comportar da maneira até hoje a mais inverossímil. Ele falsifica um incêndio só para chamar a atenção dos seus colegas de trabalho para as regras de segurança. O alguém que chega a enfartar em meio à fumaça é Stanley. Jack Black aparece como convidado especial num filme que o Andy baixou da internet. Isso me faz lembrar que eu preciso assistir a algum filme novo do Adam Sandler já. Num característico surto de estupidez, Michael resolve fazer o The Michael Scott Roast, assim dando a todo mundo a chance de dizer com todas as palavras, inclusive ao microfone, tudo de detestável que para eles Michael Scott representa. Cheguei a ficar constrangido. Eu, Neto Torcato, fiquei constrangido pelo desprezo que todo mundo sente por ele, de modo que pelo poder a mim concedido eu o absolvo das suas falhas. Esse episódio, esqueci de comentar, tem 41 minutos no arquivo que eu baixei. Mais ou menos aos 37 minutos começa o que já se tornou a minha cena predileta da temporada, uma que consideraria como estando entre as melhores de toda a série. Aqui.

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Liz Lemon dançando. Eu não tinha o prazer de ver isso desde a vez em que ela estava de pijamas em casa, se exibindo para o Floyd, talvez para indulgenciar a preferência que ele tinha por ser chamado não de simples advogado, mas de law stylistAtualização: eu estava falando da performance da Liz para o Dr. Spaceman no S03E08, quando ela se submete à condição de dançar para receber uma vacina contra um vírus que está se espalhando na equipe. Só dança, não chega a cantar e, principalmente, não chega a tirar nenhuma peça da sua indumentária. No S03E09, vejo agora, a coisa evolui para um ato complexo. Fazendo questão de se mostrar uma lunática, ela sobe no palco, desabotoa a camisa e começa a trautear o baixo de Everybody Dance Now: pêên!, pêên!, pôôn, pôôn, pêên! Melhor eu correr para assistir ao próximo episódio. 

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Waking Life - Richard Linklater

Bastante tempo depois de ter assistido a fragmentos deste filme na TV e de ter experimentado, durante o processo,  uma sensação forte de vertigem, fiz uma nova tentativa -- infrutífera. Antes de falar qualquer coisa sobre o conteúdo do filme, embora já entrando na delicada parte do formato em que ele é apresentado, acho que é a primeira vez que eu posso dizer de um filme que só de olhar para ele eu fiquei tonto. Quase nauseado, se essa expressão puder ser utilizada para designar o caso de alguém que não está conseguindo enxergar o que está na sua frente e que fica bastante frustrado com isso. As piores cenas foram as do guri andando pela cidade: não apenas a paisagem era de desenho, como a linha do horizonte ficava tremendo feito uma gelatina inconsistente. 

Nota: me queixar com o meu oculista da minha incapacidade em me concentrar assistindo a esse filme; pedir que ele acabe com o meu caso de miopia/astigmatismo. Ou então testar daltonismo, sei lá. Algum problema ele vai ter que achar. Eu gostaria de dizer que não é à toa que eu não estou fazendo muito sentido nessa história de vertigem. Francamente, eu fiquei bastante encabulado com o jeito pelo qual a minha visão não funcionou e com o jeito pelo qual minha cabeça parecia uma bola de basquete sendo atirada violentamente ao chão a cada vez que eu fechava um pouco os olhos para tentar enxergar alguma coisa fixa.

Mas já falando da história,  terei eu sido um crápula cinematográfico se eu tiver terminado o filme desejando que a cena final fosse do guri mostrado em imagem normal? Sabe, uma rápida imagem normal dele acordando daqueles sonhos malucos, olhando para o relógio e vendo que já estava na hora de se preparar para começar o dia. Porque mais ou menos lá para o início da segunda metade do filme eu já tinha colocado na minha cabeça que esse era o final melhor que a história poderia receber. Todos aqueles monólogos interessantíssimos eu via como simples obstáculos que precisariam ser afastados para se chegar ao final perfeito que eu tinha elaborado mentalmente, o guri sendo mostrado em imagem normal. Não teria sido tecnicamente muito difícil fazer isso. Bastaria deixar uma pequena parte da filmagem no seu formato original, pois eu li há muito tempo que o filme foi todo rodado em câmeras normais e que só depois o efeito de animação foi acrescentado. 

O que essa minha ideia faria com o conceito artístico do filme eu não sei. A sua pertinência talvez esteja limitada só ao que eu achei do filme, não a uma análise objetiva do roteiro. Eu sempre fui um pouco insatisfeito com a forma das histórias terminarem, em todo caso, mas nunca fui satisfatório na hora de apresentar desfechos alternativos. Quem leu os meus trabalhos literários para os livros do Cachorrinho Samba pode falar.   

Dr. Zhivago - David Lean


Tirando a Inglaterra, a Rússia é o lugar mais legal da Europa. E olha que este filme nem é sobre a aristocracia czarista que não cortava as unhas para se mostrar fisicamente impossibilitada de executar trabalhos manuais. Aqui as pessoas até vão para a guerra e até cuidam dos feridos. Em algum ponto da história uma família se abriga numa casa congelada, para se ter uma ideia. Numa palavra, o filme mereceria um post mais elaborado. 

The Rocker - Peter Cattaneo



Deixando de lado os trejeitos que Rainn Wilson se viu obrigado a exagerar, e que não poderiam mesmo se adaptar a um personagem tão diferente do Dwight, eu diria que assistir a este filme foi um bom ato de entretenimento para mim. Mas isento de toda culpa as pessoas envolvidas com a sua concepção e produção para assumir toda a responsabilidade por essa declaração. 

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Benny Goodman & Peggy Lee - Sunny side of the street



Fazia algum tempo que eu não procurava por essa versão no Youtube. 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Data e hora da minha idiotia

Se eu fosse uma daquelas pessoas que ficam gravando todos os seus pensamentos num aparelhinho, só que escrevendo neste blog em vez de falar, o meu registro seria idiota à sua própria maneira. Ou, se preferirem, à minha própria maneira. Só duas vantagens esse registro escrito teria:  uma, eu não precisaria escutar a minha voz entrecortada e débil e irritante; outra, eu teria mais chances de escutar o barulhinho do teclado rapidamente sendo vitimizado pelos meus dedos grosseiros. Nesses dois pontos, eu sei, a minha demofobia congênita diminui de intensidade. Isso porque da mesma forma que quase todo mundo se horroriza ao escutar a própria voz gravada, quase todo mundo adora o tal barulhinho de teclado. Nesses dois pontos eu me coloco com a maioria. Nenhuma demofobia aqui, portanto. 

Mas já que eu falei que o registro seria idiota, vou mostrar que eu não estava brincando. Vejam. 

Data e hora 1: pela primeira vez estou me sentando com calma em frente ao meu novo computador. A máquina não chega a ser o que existe de mais sofisticado, mas comparada à sua antecessora, que sucumbiu inteiramente a uma pletora de defeitos, está ótima. Muito trabalho para me lembrar de todas as minhas rotinas e incorporá-las. Ainda não ter conseguido resgatar os arquivos do outro HD só faz isso piorar. 

Data e hora 2: acréscimo de nostalgia. Saí procurando dvd's onde eu pudesse ter gravado as principais coisas. Deparei com 6 ou 7 dvd's só com MP3. Escutando antiguidades variadas, como Gov't Mule, Gluecifer, Pavement e Tennessee Beats,  aproveito para fazer um scrobbling lá naquele desterro de página que é a minha Last.fm.   

Data e hora 3: codec's baixados. Preciso assistir aos novos episódios de The Office, 30 Rock, Lost e House. Preciso me conformar com as pessoas querendo que eu admita que eu assisto ao Big Brother (e eu nem assisto) enquanto na Inglaterra já até acabou a terceira temporada de Lead Balloon (e eu nem assisti). Preciso terminar de assistir Deadwood e Venture Bros. 

Data e hora 4: duas coisas sobre as quais eu quero escrever estão sendo preteridas neste exato momento. 

Data e hora 5:  windows vista. Quando você liga um novo computador, por algum motivo você acha que ele será igualzinho ao antigo. Basta a Lixeira estar um ícone abaixo de onde ela costumava ficar para você achar que fez um mau negócio trocando de sistema. Sair do Windows XP e ir para o Vista, então, é uma mudança considerável. Meu amigo me disse que eu irei me acostumar. Não sei. Nisso eu já também coloquei o Google Chrome, que até agora eu estava evitando para não precisar colocar a versão beta. Para ser franco eu não sei dizer se esse meu plano funcionou.  

domingo, 1 de fevereiro de 2009

It's a wonderful life - Frank Capra



It is. For some people, at least. For George Bailey (James Stewart), I'm sure. Coming to terms with my own background, should that be a necessity one day, I think I would agree with that. It is a wonderful life, after all. I wouldn't go as far, though, as saying that it is absolutely most ridic', positively sill' to feel otherwise. I wouldn't know, as a matter of fact, if the amount of sadness I can endure without complaining is simply larger than the average. For all I know, that might come from a particular complexion of my brain cells and by no means would I consider that to be my personal merit. But after I finished watching this movie, not one sad thought that occurred to me hanged in there for more than a couple of seconds. I immediately thought of a way of spinning it to happy feelings of joy. I didn't even need to make such a great effort. It came naturally --very naturally, by the way, like I was some sort of champion person. "Way to go, champ". When I went out to return the DVD, I walked through the streets thinking to myself that if that was the way I was feeling, there was no reason to deny it by being sad and gloomy on purpose. I found out it doesn't pay quite as well as one might think and, at least for the week, I intend to keep on the good work. One happy thought that I created, for instance, was that the stuff that somebody put in all lampposts of Moreira Cesar Av. was not a part of some kind of school activity. Probably children put it there, I know, but I thought that it could be some girl inspired by Amélie Poulain just trying to express herself. Isn't that much nicer? Please ignore what I just said if you didn't pass through this avenue the last couple of days. Or just believe me, instead, when I say that a lot of cool stuff is hanging in those lampposts: some old pictures, some mysterious words and drawings. They don't seem to mean anything other than some secret message only a good-hearted, perceptive young lover could understand. It's a wounderful life is a hell of a movie, I tell you that. It sort of messes up the cause/effect law. The message here is that no good man should feel discouraged. And what the movie does is precisely to give hope. If not hope, then the correct perspective on life, which is this: zzzzzzzzzz. Yeah, this last part I still haven't figured out.

The Day of the Locust - John Schlesinger



Em mais de duas horas eu experimentei sensações perfeitamente antagônicas em relação a esse filme. A começar pelo personagem que eu considerava ser o principal. Na primeira parte eu me convenci de que era o Tod, o jovem e talentoso desenhista que chegava a Hollywood para conquistar o seu espaço nos bastidores de um grande estúdio. Ele até alugou um apartamento naquele condomínio ominoso em que as estrelas costumavam morar numa certa época que é sempre mais antiga do que a época em que a história se passa. Todo filme sobre como fazer um filme mostra esse condomínio. É o mesmo, acho, onde mora uma daquelas moças do Mulholland Drive -- com umas paredes brancas arqueadas, um belo jardim e até um indispensável anão. Mas logo a história se desvia para a mulher que o Tod está tentando conquistar, Faye. Se desvia mesmo. Tod é deixado totalmente em segundo plano até que a atenção dada à própria Faye é substituída pela que se dá ao Homer Simpson. O nome do sujeito com quem a Faye vai morar é Homer Simpson (Donald Sutherland). Ele cozinha bem e aceita que uns amigos dela, mexicanos profissionais do negócio das brigas de galo, se mudem para a garagem. Enquanto isso Tod está progredindo no estúdio, caindo nas graças de um alto executivo. Como eu disse, minha opinião sobre o filme variava conforme as horas iam se passando. O início foi legal. A primeira cena é no jardim do condomínio e Jeepers Creepers está tocando. Aliás, essa música toca um monte de vezes, inclusive quando a Faye descobre que o seu pai, um palhaço aposentado, estava fingindo morrer em seu leito. Tomada de raiva, ela começa a berrar a letra, quase rasgando a roupa. Mais ou menos por aí eu já estava um pouco sem paciência, porque o pai dela, para mim, já ia tarde. Detesto palhaços. Detesto ainda mais palhaços saudosistas. Cheguei até a dormir. Nada parecia que iria a algum lugar. O final do filme já estava chegando, os personagens ainda apenas orbitando em torno do sucesso em Hollywood. Se terminasse daquele jeito, o filme seria realista, eu imagino, na mesma proporção em que desprovido de graça. Faye estava de cocote em frente a um cinema, esperando as estrelas que chegariam para a estreia de The Buccaneer; Homer Simpson perambulava pelas ruas com as suas malas, sem rumo depois de ter sido abandonado pela amante; Tod andava também sem destino. Um pirralho (ou talvez fosse menina, confesso que não sei) muito chato que morava no condomínio, então, aparece para infernizar Homer Simpson. Homer Simpson, depois de perseguir sofrivelmente o guri, quase caindo com os olés que ele estava tomando, finalmente se beneficia de alguma coisa na história: do tombo que o próprio pirralho tomou. Daí, transido de ódio, ele começa a pular em cima da criança, esmagando-a insistentemente. Fiquei interessado. A multidão que estava por perto, à espera das estrelas, percebe que alguma coisa de errado estava acontecendo. Sai enfurecida e o segura. Agora ele começa a ser espancado. Na confusão do momento, Faye é violentada por dois homens. Tod é arrastado e se perde. Depois de um tempo ele consegue escapar, debruçado e ferido no chão. Ele levanta os olhos e ao fundo de toda aquela baderna ele enxerga um homem mascarado. Ele reconhece que aquele homem tem o mesmo semblante de um desenho que ele havia feito uma vez. Agora nós descobrimos que Tod era uma espécie de Mãe Dinah cruzada com Chico Xavier -- os seus desenhos são representações de uma tragédia futura. No meio dos incêndios, dos saques e das depredações, ele começa a perceber que tudo aquilo ele já tinha ilustrado. Como aquele cara em Heroes. Só que não aparece ninguém para tentar dar um jeito. O cômico fica por parte de um locutor que estava em frente ao cinema, entrevistando os atores e atrizes que chegavam. Ele não tinha um ponto de vista favorecido do qual ele fosse capaz de distinguir o massacre que estava acontecendo de uma mera agitação dos fãs.

La double vie de Véronique - Krzysztof Kieslowski


Por mim o filme poderia muito bem se chamar A Vida de Weronika. Gostei muito mais da versão cracoviana da guria do que da versão francesa. E já que eu não vou falar mais nada, vou falar apenas uma coisa. Está na hora dos profissionais que trabalham na área da movimentação de bonecos dentro de uma caixinha começarem a usar luvas. Isso poderá ajudar a disfarçar o fato de que os bonecos não têm vida própria. Algumas vezes eu já vi esse tipo de espetáculo e em todas elas eu observei que o máximo que os profissionais da área fazem é vestir roupas pretas. Por que não usar também luvas pretas?
 
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