domingo, 30 de novembro de 2008

The importance of being Earnest - Anthony Asquith


Minha opinião é a de que as peças do Oscar Wilde são um material melhor para uma leitura solitária, ensimesmada e contemplativa, do que para representação no estardalhaço de um palco. E que seja menos que ideal o resultado quando se quer passar a coisa para o cinema, isso, para mim, é algo que não necessita de maiores demonstrações.

Ninguém parece acertar bem a fluência com que certas frases precisariam ser ditas para se tornarem engraçadas. Nem mesmo atores e diretores ingleses dos anos 50. Talvez nem mesmo os atores e diretores da própria época em que foram escritas. Particularmente no caso do TIOBE, Jack e Algy, coitados, são vítimas de um verdadeiro massacre. Pensei isso quando assisti tanto à versão mais recente, que é bisonha, como também ao ver a mais antiga, que na melhor da hipóteses pode ser considerada monótona.

O texto, apesar de tudo, é esplêndido. Nota interruptiva de post para lamentar a eficiência da Domino's. Não foi dessa vez.

The duellists - Ridley Scott


Não sei se está dando para ler direito os versinhos de exortação na parte superior. Transcrevo: Fencing is a science. Loving is a passion. Duelling is an obsession. Alguém já os ridicularizou hoje mais cedo. Simplesmente transcrevê-los foi a fórmula que eu encontrei de também fazer isso. Mas acrescento o seguinte: o "loving is a passion" não tem absolutamente nenhuma relação com a trama do filme. Está aí apenas por se tratar de uma história de época. A frase mesma dificilmente faz algum sentido. Pois o que há de tão extraordinário, de tão singularmente amoroso ou apaixonante, num militar francês do final do século XVIII e início do século XIX se amancebar com uma mulher e depois -- ó, bela surpresa -- terminar se casando com uma outra?

Deixando isso de lado, porque o que importa aqui é o tratamento dado pelo filme ao tema dos duelos, posso dizer que existe uma inovação bastante peculiar em um dos combates que são mostrados. No duelo final se preferiram pistolas em vez de espadas. E não apenas um revólver com uma única bala na agulha. Cada duelista ficou com duas pistolas. Um deles, uma vez acordados os termos entre os assistentes, foi se esconder num bosque enquanto. O outro, enquanto isso, olhava na direção oposta. Depois, confusamente perambulando nas encostas de umas ruínas, cada um poderia atirar à vontade os dois únicos disparos. Quase um método de bang-bang, portanto.

Outro combate, mais plástico, digamos, aconteceu com os oponentes montando cavalos. Só que eles não tinham aquelas lanças medievais. De modo muito previsível, por isso, nenhum dos dois foi traspassado mortalmente. Mas algumas pessoas tomavam café da manhã numa mesa improvisada entre as árvores. Eu me pergunto se alguma delas fez piada, pedindo para outra que, por favor, passasse o presunto.

sábado, 29 de novembro de 2008

Barry Lyndon - Stanley Kubrick


A primeira parte do meu estudo involuntário sobre o costume de resolver desavenças através de duelos. Provavelmente, uma vez que esta análise está sendo conduzida por pura coincidência e não atende a propósito algum, eu deveria ter tido mais cuidado em começá-la por um filme que não tivesse três horas de duração. Porque eu admito que experimento, agora, um pouco de enfaro desse assunto para o resto do final de semana.

De todo jeito, é até engraçado você pensar na restauração do duelo como o primeiro passo de um movimento capaz de aproximar nossa ética moderna, tão corrompida e pusilânime, do código de honra cavalheiresco de outras épocas da cristandade. O que eu não sei direito é o que as pessoas que têm escrito sobre isso, por mais unicamente cômicas que sejam suas intenções, entendem por duelo.

Lembro-me que os duelos de que eu mesmo participei seguiam um padrão muito restrito que nunca variava. Com as pistolas nas mãos, meu oponente e eu primeiramente nos colocávamos de costas, um bem próximo ao outro, e então contávamos, depois que o árbitro eleito nos autorizasse, dez passos. Vencia quem se virasse primeiro e acertasse os disparos imaginários no outro, o que era verificado na combinação "fazer o barulhinho do tiro com a boca" mais "apontar o dedo indicador numa direção mais ou menos aceita como a certa". Era mal visto quem se virasse antes do tempo, embora ninguém, nem mesmo o árbitro eleito, pudesse realmente fazer qualquer coisa sobre isso. Ao perdedor ressurrecto só restava desafiar novamente o perpetrador da grave ofensa e esperar por uma melhor sorte da próxima vez.

Cresci, no entanto, para ver outras formas de duelo bastante diferentes daquela com a qual eu estava acostumado. Sempre intrigado, jamais obtive respostas satisfatórias quanto à lógica desses outros sistemas. Lutas com espadas, por exemplo, me parecem a forma como neandertais embrutecidos resolveriam suas divergências. Não acho que elas guardem o verdadeiro espírito do duelo. Só vejo duelo na acepção honrada do termo quando, além de resolverem as próprias partes a sua disputa, a fórmula escolhida permita algum grau de opção. Quer dizer, você pode até se virar mais cedo e, com os seus tiros fictícios, matar facilmente o adversário. Mas se você fizer isso, ninguém ignora que o mérito da disputa será favorável ao suposto de cujus. Digo isso e fico muito tranquilo em relação à questão Buford Mad Dog Tannen versus Marty McFly/Clint Eastwood. Ali, é bom lembrar, o Marty claramente ofereceu uma espécie de faculdade ao Tannen. Tanto é que todo mundo fez um semblante consternado quando ele resolveu disparar impiedoso contra um Marty já inerme, já com a arma jogada ao chão. Ora, ninguém aceitaria como legítimo esse comportamento.

Em Barry Lyndon, que eu me lembre, aparecem três formas de duelo. Duas com armas de fogo e uma que nada mais é do que a velha briga de colina, ao melhor estilo do exército inglês do século XVIII, em que dois soldados basicamente se golpeiam com os punhos, dentro de uma rodinha formada pelos demais soldados. Os duelos com arma de fogo, ou melhor, a total inépcia e falta de emoção dos duelos com arma de fogo, é que me espantaram.

Num deles os oponentes se colocam a uma distância não maior que uns dez metros, um de frente ao outro. Ficam aguardando que os respectivos assistentes carreguem o revólver com pólvora. Depois disso, o árbitro pergunta se os duelistas estão prontos; com a resposta de que sim, estamos prontos, o árbrito pede que eles destravem o gatilho e mirem o oponente. Até esse momento, portanto, literalmente nenhuma ação relevante. Estando os dois com as armas apontadas, o árbitro pega um lencinho branco e anuncia que irá deixá-lo cair depois que contar até três. Ainda nenhuma ação. Começa a contagem, cai o lencinho e então chega o momento catártico dos tiros. Dos dois únicos tiros, quer dizer. Cada oponente atira uma vez, até porque só existe uma bala na agulha. Depois se vai investigar qual deles sobreviveu. Se alguém morreu, ótimo. Do contrário, o enfadonho ritual prossegue até o infinito.

O outro duelo com arma de fogo me pareceu ainda mais estúpido e sem sentido. Onde já se viu um duelo começar com uma moeda sendo atirada ao alto, o desfecho da contenda dependendo do lado da moeda que cair virado para cima? Tudo bem que isso não é tudo. Mas, não adianta: na minha cabeça isso não entra como uma maneira briosa de se dar solução a um agravo. Bom, voltando ao que eu estava dizendo, o duelo começa com um cara-ou-coroa. Lançada ao alto a moeda, quem acertar o cara-ou-coroa ganha o direito de atirar primeiro. Os duelistas ficam novamente um de frente para o outro, novamente numa distância muito curta. Um deles, o que venceu o cara-ou-coroa, repito, tem o direito de atirar primeiro. Se logo no primeiro tiro o outro morrer, então é isso, screw you guys, I'm going home. A obtusidade desse sistema é algo que não consigo explicar.

Vocês sabem o que é feito para que sejam diminuídas as chances do duelo terminar logo no primeiro tiro? Sabem qual é o outro grande catalisador da emoção nesse duelo, além do cara-ou-coroa? Supostamente para dizer que não é líquido e certo que o duelo vai acabar logo no primeiro tiro, e que o perdedor do cara-ou-coroa não foi vítima de um perfeito faux pas, eles deixam que ele tome a eficientíssima medida de proteção consistente em não ficar de peito aberto para receber o tiro; num ato de camaradagem, permitem que ele fique de perfil, de modo que o projétil que lhe atravessará os tímpanos -- no caso de uma sorte invulgar, isso é -- lhe deixe apenas surdo, em oposição a morrer instantaneamente com a face desfigurada.

O Triângulo das Bermudas, a história incrível de estranhos e inexplicáveis desaparecimentos - Charles Berlitz


Que acaba enumerando as provas inequívocas da existência do continente perdido de Atlântida, suas maravilhas naturais, população ultracivilizada de íntima conexão com criaturas de outros planetas preocupadíssimas com os avanços nucleares da humanidade e com a iminente aniquilação total que ela está prestes fazer recair sobre si mesma. Passando pela minuciosa descrição das espetaculares aventuras dos ancestrais indianos, narradas no Mahabharata, o primeiro registro escrito de máquinas-mais-pesadas-que-o-ar utilizadas na invasão ariana ao subcontinente indiano pelo norte, há coisa de 12 mil anos. Incidentalmente noticiando o sumiço dos aviões integrantes do Vôo 19, nas proximidades da costa da Flórida, alguns meses após o fim da Segunda Guerra Mundial, sugados por um vórtice de aberrações eletromagnéticas.

No final das contas eu recomendo este livro. Gostei do estilo do Berlitz. Já li coisas muito mais desinteressantes como idéias, sustentadas muito mais pobremente.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

sábado, 22 de novembro de 2008

Death proof - Quentin Tarantino


Numa palavra, sinto que me foi feito um ato de gentileza pessoal, mais um entre os muitos que eu não mereço. Humildemente agradeço a todo o elenco, ao diretor e à pessoa que me recomendou este filme: muito obrigado. Vou assistir novamente a mais umas cenas antes de escrever qualquer coisa. Acho que eu poderei compensar a perda da emoção súbita e espontânea com a apresentação estudada de alguns detalhes que de cabeça, agora, eu não vou me lembrar.

Antes, um aviso. Eu cheguei a escrever alguns parágrafos que estão depois do três pontinhos com a esperança de, no final, encontrar um jeito de concatená-los de acordo com o desenvolvimento da trama. Isso até que não seria uma tarefa muito difícil, porque Death Proof, querendo ou não, é bem menos vai-e-volta do que outros filmes do Tarantino. Acabei modificando o meu plano, contudo, diante da impossibilidade de assistir novamente a várias cenas do filme sem querer ficar colocando aqui apenas uns trechos, umas frases que tenham me impressionado de alguma forma, por qualquer motivo. De maneira que cederei a essa tentação. Na maioria dos casos elas parecerão muito soltas e ilógicas para quem não assistiu ao filme, e mesmo para quem já o conhece, mas não se lembra com exatidão de todas as palavras. Para resolver parcialmente esse problema, faço-lhes o sumo obséquio de indicar o tempo no relógio em que elas foram ditas. Não me peçam mais.

***

53min 05ss

"Well, what we've got here is a case of vehicle homicide..." Digam o que quiserem da linguagem jurídica, mas que ela às vezes dá uma nome massa a algo que do contrário seria apenas uma atrocidade inominada, isso ela faz. Massa e, ao mesmo tempo, técnico. Vehicle homicide... alguém consegue pensar num jeito melhor de descrever um homicídio cometido com a utilização de veículo?

38min 01ss

"I actually have a book". Muito antes de Stuntman Mike (Kurt Russell) dizer isso, querendo passar a impressão de que, no livro que ele do nada tira do bolso, ele realmente vai anotando o nome de pessoas e coisas que o agradam e importunam, muito antes disso já dá para perceber que o sujeito é esquisito. E como diria o meu avô, todo cuidado com o esquisito. Fiquei rindo sozinho por alguns instantes, de modo bem idiota até, quando me lembrei do episódio de South Park em que ele (de novo, Kurt Russell) aparece como a solução encontrada pelos generais do exército americano para livrar o mundo de uma grande hecatombe que está acontecendo na Imagination Land. Ele é mandado nessa missão suicida para enfrentar uns bichos de pelúcia malignos que tomaram conta de um território e, chegando lá, é estuprado. Por delicadeza, Trey Parker e Matt Stone não mostraram a cena da violação íntima, mas nos fizeram escutar gritos desesperados de "I'm being raped, i'm being raped! Oh my God, I'm being raped". Nada muito mórbido e doentio, é claro. Material certo para uma anotação no livrinho vermelho, eu acho.

45min 40ss

"I'm afraid you're gonna have to start gettin' scared... immediately"
Essa dispensa qualquer glosa.

27min 13ss


- Hey, Warren, who is this guy?
, perguntou despreocupadamente, mas não sem algum interesse na resposta, levantando a mão com um gesto e apontando para aquele homem que vestia uma jaqueta tão indecorosa. Ela ignorou momentaneamente aquela presença incômoda, desviando um pouco os olhos para a direita e procurando Warren, como se aquele fosse o único jeito de restaurar a ordem das coisas, tão perturbada que ela fora por aquele sujeito se apresentando para as pessoas que perguntavam o seu nome como Stuntman Mike. Warren, que em momento algum largou o pano que tinha nas mãos e deixou de limpar o vidro do congelador onde ficavam as bebidas de maior saída no bar, respondeu secamente:
- Stuntman Mike.
Agora já um pouco tocada pela resposta que lhe parecia extremamente banal para uma pergunta que, para ela, não era assim tão sem sentido, prosseguiu exaltada:
- And who the hell is Stuntman Mike?
Warren, inalterável, repetiu:
- He's a stuntman.

01h 27min 11ss
- What's a cheerleader movie?
- It's a movie about cheerleaders.

1492 - Vida e tempos de Juan Cabezón de Castela - Homero Aridjis


Disclaimer: Leia novamente. É 1492. Mil quatrocentos e noventa e dois. Descoberta da América. Tomada de Granada pelos reis católicos. Expulsão dos judeus do território espanhol. Não Pearl Harbor. Não aquele joguinho do Phantom System.

***

De tempos em tempos a sabedoria fútil adquirida em nove temporadas de Seinfeld é colocada em causa. E às vezes o caso é difícil.

A certa altura do livro, por exemplo, chega-se ao dilema de se decidir qual é a pior parte de ser cego. Um dos personagens principais, Pero Meñique, perdeu a visão num duelo ou quando foi feito prisioneiro por um inquisidor, eu acho. Aproveitando-se disso para opinar em todos os assuntos relacionados à cegueira, várias vezes ao longo da história ele dá o seu testemunho. Não podemos deixar de reconhecer que ele tem algum conhecimento sobre a matéria. De outro lado, Jerry dispõe de todo tempo do mundo para abstrair quaisquer preocupações e se dedicar a um único pensamento, por mais anódino que seja. De modo que o resultado dessas duas circunstâncias, no ponto que estou discutindo, é o do mais absoluto equilíbrio.

Jerry, todos sabemos, sustenta que a pior parte de ser cego é não ser capaz de dizer se a sua comida está infestada de bichos, insetos. Não se poderia jamais saborear uma refeição, prossegue ele, sendo necessário constantemente ficar sentindo os lábios e a língua. O argumento é forte e bastante singular, para não dizer incontestável.

Já Pero Meñique, que, lembremos, é cego, tem uma opinião mais trivial. Para ele, a pior parte de ser cego é cair duas vezes no mesmo buraco. No entanto, ficamos sem saber até que ponto essa opinião é influenciada pelo fato dele ser não apenas cego, mas mendigo de ofício, e não apenas profissional da mendicância, mas pedinte em Madrid - no século XV, ainda por cima. Não podemos afirmar que a quantidade de buracos nesse cenário tenha sido irrisória, nem de que forma a psicologia humana se comportaria no caso de tombo repetido num mesmo lugar. Só podemos afirmar que não importa qual tenha sido a quantidade de buracos, Pero Meñique é candidato a ter sido um dos seus mais assíduos frequentadores. E esse mero fato já é algo que não pode ser ignorado.

Como diria Neo, não estou aqui para dizer como esse dilema termina. Estou aqui apenas para dizer que ele começou.

***

Transcrevo uma das minhas passagens favoritas no livro, uma das muitas engraçadas que aconteceram ao bom Juan Cabezón e a Pero Meñique, ao andarem pelos quatro cantos dos reinos espanhóis. Era uma espécie de feira. Haveria um auto-de-fé, o que naqueles dias significava um dia de festa:

"(...) Um chocarreiro, com o rosto e as mãos pintados de preto, apontou para um anão ancião, de grande cabeça e corpo minúsculo, com gibão pardo, calças pardas, sapatos de sete solas pardas e um espadão de ferro maior do que ele. Disse:
-- Dom Luis Montaña el Abulense, que regressou a Ávila antes de sair de viagem e depois de morto voltou para levar o corpo. É fama que ganhou a vida como bufão vestido de dama, com um chapéu de infante de metade de sua cabeça e uns sapatos quatro vezes seus pés. Dizem que aos dez anos caiu de mau jeito e se levantou aos trinta e seis do mesmo tamanho. Mas, muito apaixonado, casou-se com três camponesas, que o deixaram liso, as três trigêmeas Ana, Juana e Susana. Grande imitador de pessoas, é remédio para contra melancolias e mezinha para aflições, se o beberem bem espremido."

Vicky Cristina Barcelona - Woody Allen

Ainda não cheguei ao ponto de sentir vergonha por continuar gostando dos filmes do W.A. Desde aquela cena da Juno, é verdade, tenho me esforçado para não me mostrar um entusiasta tão confirmado, mas é sem muito sucesso que eu busco passar essa impressão. Sem muito esforço, também. Porque, no fundo, continuo experimentando o mesmo tranquilo deslumbramento com os seus filmes, e continuo gostando da idéia de que existe uma espécie de quieta, porém não menos divertida, compreensão das coisas que acontecem com as pessoas. Uma compreensão, eu acho, que ele tem bastante aguda, e que ele sabe demonstrar muito bem na forma de uma comédia de 90 minutos - ainda que apenas pelo absurdo, inverossímil e completamente distante do que poderia ser considerado a minha realidade. Ou a realidade brasileira.*

*[Sempre que ouço alguém dizer que uma coisa deixa de ser boa ou ruim apenas porque tomada em comparação com a realidade brasileira, lembro-me daquela máxima segundo a qual uma discussão mais rapidamente se aproxima da esquizofrenia delirante, quanto mais cedo uma das partes que discutem é comparada a Hitler.]

Senti falta dele como narrador. Confesso que até agora eu ainda não encontrei um motivo razoável o suficiente para que ele mesmo não apresentasse os personagens usando aquele monte de advérbios que ele costuma usar. Por ter chegado um pouco em cima da hora no cinema, tendo sentado na cadeira no preciso momento em que o famoso "Written and directed by Woody Allen" dos créditos desaparecia sob o fundo escuro para dar lugar, eu acho, à primeira tomada de Barcelona, senti falta também de praticar o meu velho hábito de ficar tentando reconhecer os nomes dos membros da equipe de filmagem. Sempre me lembro de uma tal de Rosenthal. Na pressa para sair da sala, igualmente, não fiquei até o final e não olhei com atenção para a informação da trilha sonora.

Na crítica que saiu da Veja algumas semanas atrás, o maior elogio que foi feito ao filme foi o de que era uma celebração à força do acaso. Como se uma ulcerada ser acometida por uma crise estomacal, depois de largamente se servir de tudo quanto é bebida alcoólica, fosse realmente uma obra do acaso. Mas estou sendo injusto. Confiro na revista, e uso aspas para citar, que o que realmente se quis enaltecer foi a atitude de se sujeitar à sorte, de "abraçar o inesperado" como um "emblema do imprevisto", tudo para transformar o postulado cartesiano em "me arrisco, logo existo". Tá bom.

O ponto mais baixo do filme foi o tal do violão catalão. Por duas vezes, eu acho, fui obrigado a ficar escutando um sujeito tocar violão para uma rodinha de pessoas maravilhosas que se espalham pelo chão e fazem uma cara de quem está se lembrando de coisas funestas. Deixam cair lagriminhas e saem de lá perturbadas. O próprio sujeito que está tocando tem o semblante amargurado de um cantor sertanejo, com direito a cabelo penteado e tudo. Eu gostaria de pensar que essas cenas foram uma piada, e não uma homenagem ao Pedro Almodóvar, mas, afinal, a quem eu estaria enganando?

Escolho como ponto alto, bem a esmo e sem qualquer intenção previamente concebida, uma das três mulheres estonteantes. Uma foto só não bastará.




Tal como foi mostrada, e já termino, Barcelona pareceu ser uma cidade muito bonita. Dizem que sofreu uma reforma urbanística para receber os Jogos Olímpicos. Mas é claro que os ambientes internos também ajudam.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

icloud

Nas palavras de uma das criadoras, é um desktop online.

E já que eu voltei aqui para corrigir o link - que agora já está correto - deixe-me juntar a este breve comentário umas poucas palavras a mais. Ao que parece, não adianta chegar lá de Firefox que você será barrado. Pelo menos por enquanto, só dá para acessar o serviço com o Explorer. Para vocês terem uma idéia:

domingo, 16 de novembro de 2008

Lead Balloon


É uma pena que eu escreva tão laconicamente sobre uma das minhas melhores descobertas do ano, pois gostei muito mais dessa série do que esse post ligeiro dá a entender. Imaginem a versão britânica de Curb your Enthusiasm. Agora, comemorem.

domingo, 2 de novembro de 2008

Breakfast at Tiffany's - Blake Edwards

Dormi. Aquele vizinho japonês não ajudou muito. Se dependesse da parte a que eu assisti, o nome do filme seria Dinner (on the day before) at Tiffany's.

Once upon a time in America - Sergio Leone

É impossível escrever qualquer coisa que, na extensão, seja proporcional à duração desse filme. São dois dvd's de quase duas horas cada um. Uma coisa a respeito da qual eu posso comentar, e nisso eu cobrirei mais ou menos um quarto do filme inteiro, é a gaita que um dos personagens tem sempre nas mãos e que toca em alguns momentos críticos. É quase a mesma gaita que o Charles Bronson recebeu do assassino do seu irmão, em C'era una volta il West, e que ele toca nas horas livres, isto é, nos segundos que antecedem um tiroteio.

Quer dizer, o som mesmo que é produzido pelos dois instrumentos até que é diferente; a do Bronson me fez lembrar Muddy Waters e alguns blueseiros de Chigaco; a outra talvez não seja tecnicamente uma gaita, mas um aparato com uns canos, o seu som se parecendo com o de uma Peruvian Flute Band, tal como eu as conheço dos últimos episódios de South Park.

Certa passagem do filme mostra os membros da gangue depositando parte do dinheiro arrecadado na delinqüência numa mala de couro. Por sua vez, a mala é colocada num guarda-volumes de uma estação. Até pouco tempo na história da civilização ocidental, essa parecia ser uma prática bastante comum. Eu me pergunto se tem gente ainda escondendo dinheiro, ou microfilmes que sejam, nesses lugares. Isso, e se tem gente resolvendo crimes seguindo a pista deixada por uma caixinha de fósforos.

Dan in real life - Peter Hedges


Em nenhum ponto da história Steve Carell se acomoda desse jeito sobre um montinho de panquecas. Essa foto é meramente ilustrativa de um estado mais ou menos lamentável de depressão e infelicidade.

O que é, de resto, altamente provável, ou pelo menos compreensível, se você é um viúvo que depois de quatro anos de penúria sentimental se apaixona pela namorada do seu irmão, esse último simplesmente o paroxismo da felicidade humana na Terra -- Dane Cook himself. Essa é a história do filme. E que a certa altura os dois irmãos cantem, num mesmo palco, e para a mesma mulher, Let my love open the door, meio que definitivamente explica de que tipo de filme estamos falando. Como se não bastasse, é claro, a cena final, os créditos já aparecendo na tela, de um casamento.

A coisa mais legal do filme, sem dúvida, é a casa dos pais. A segunda mais legal foi a idéia que eu tive ao ver o povo jogando boliche, uma idéia infalível para derrubar todas as garrafinhas. Algum dia, quando eu estiver em periclitância num jogo de boliche, colocarei essa idéia em prática.

Clockwise - Christopher Morahan


Mais um com John Cleese. Um pouco atrapalhado pelo fato dele ser o único ator do filme com alguma inclinação para a comédia. Os outros, embora ocasionalmente atraídos por situações cômicas, não acrescentam nada que se poderia considerar um estilo próprio.

A história tem uma coisa que eu sempre admiro, que é se desenvolver em torno de um único evento, um único pretexto. Tudo num só dia. O McGuffin, se assim pode ser considerado, é a reunião dos diretores das escolas de elite da Inglaterra, na qual o personagem do J.C fará o seu primeiro discurso como chairman. É para essa ocasião que ele se atrasa.

Eu não conhecia o hino religioso que algumas vezes é cantado no filme -- He who would valiant be. Achei muito bonito, na letra e na melodia. Me lembrou da cena na capela, em The man who knew too much, onde se canta um hino parecido.
 
Free counter and web stats