domingo, 28 de setembro de 2008

Speaking of Sex - John McNaughton


Alguma coisa deu muito errado, porque o que eu mais gostei neste filme foi da fotografia. Não sei bem se da fotografia como expressão técnica de uma arte ou como aquilo que simplesmente faz o filme adquirir uma cara tão lavada de anos noventa - o fato é que todo o resto me pareceu muito mais insípido e constrangedor do que o tolerável. Principalmente considerando que três atores por quem eu tenho uma especial admiração estão no elenco: Bill Murray, Jay Mohr - que chegou a pedir que o seu público lhe enviasse piadas sobre direito tributário - e Catherine O'Hara - para sempre lembrada como a pessoa que não reconheceu o Rei da Polka.

Pelo menos os profissionais do direito são mostrados tão comicamente quanto os da psicologia. O que é uma forma justiça, afinal, para ambas as categorias.

Jogo dos sete erros



Primeira música deste CD.



Vesão completa desta música.

sábado, 27 de setembro de 2008

Fargo - Joel e Ethan Coen


Forte candidata ao prêmio Neto Torcato para a Morte Mais Abruptamente Violenta Que Ocorre à Memória Neste Momento, a cena em que um sujeito sentado no banco de passageiros agarra o policial (em pé, fora do carro) pela gravata e dá o tiro, fazendo jorrar torrentes de sangue na cara de Steve Buscemi (motorista). Tudo isso em não mais que três ou quatro segundos. Tudo isso sem dizer uma só palavra. Pelo menos disputar o prêmio em pé de igualdade com aquela cena, eu acho que do Wild at Heart, em que Willem Dafoe deixa escorregar de um mau jeito uma shotgun e acaba tendo arrancada do seu corpo a parte que fica acima da pescoço, ah!, isso ela vai.

Mesmo tendo gostado bastante deste filme, tanta neve e tanto yah me fizeram dormir em algum ponto. Foi mais ou menos na hora em que a policial estava combinando um almoço com um antigo colega que a tinha visto na televisão falando sobre um homicídio triplo.

The Office - Weight Loss

Bom, eu iria escrever alguma coisa sobre o primeiro episódio da quinta temporada. Deixo passar a oportunidade em branco por achar que, em vista disto, a tarefa seria um pouco inútil e totalmente rebarbativa. Mas vai um email que cheguei a enviar a alguém depois de ter assistido ao último episódio da quarta temporada. Prevejo uma drástica alteração na fonte com que esta parte do post aparecerá, informando que, por mais drástica que seja, ela ficará eternamente visível como uma forma de tributo à implicância do Blogger.

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Jim e Dwight em cena, os dois sentados lá na mesa, e uns rápidos segundos de pouca ação, em que você só escuta o barulho peculiar a um escritório fornecedor suplementos de papel. Apenas, realmente, alguns segundos. Mas fica claro, para o bom conhecedor daquele olhar cínico e aparentemente ausente do Jim, que uma traquinagem está prestes a ser cometida. Toca, então, o telefone do Dwight, que se põe a atendê-lo com aqueles modos de robô que só ele tem. E quanto mais o Jim fica imóvel e indiferente a tudo isso, mais se forma a convicção de que aquilo ali acabará um tanto divertidamente, um tanto bruscamente, a famosa musiquinha tema da série entrando, com os créditos, e trazendo alegria aos nossos corações.

Um observador atento terá notado, já nessa parte, que este episódio é lá o Season Finale. Para quem eventualmente foi assistir, como eu, desconhecendo essa informação, tem lá uma dica muito forte, dissipadora de incertezas: aparece escrito Season Finale, no canto esquerdo inferior.

E o que se segue é o depoimento comovido do Michael sobre como aquele dia é especial e jubiloso, sobre como ele será lembrado para sempre, sobre como, afinal, aquele dia é o dia em que Toby Flanderson diz adeus ao Escritório. Ele próprio, no entanto, é quem menos sofre o impacto dessa mudança; se algum efeito pode ser detectado no seu semblante, esse efeito é o do alívio de estar recebendo alta de um manicômio.

Feliz com a saída do seu arquinemesis, Michael convoca o Party Planning Committee para organizar uma cerimônia de saudação à altura do grande evento. Suas idéias extravagantes, como de costume, causam lá aquela insatisfação na Angela e, antes que alguém se dê conta da insanidade da coisa, Phyllis se vê encarregada da missão de arranjar uma máquina antigravidade para satisfazer ao espírito recreativo do chefe.

O dia vai seguindo. Dwight puxa o saco do Michael e, por dever de ofício, implica com a substituta do Toby; mas Michael consegue se apaixonar em três segundos; Jim e Ryan discutem; Creed é lembrado pelos roteiristas e ganha uma cena memorável; Jim arquiteta um plano para pedir a mão de Pam em casamento; Michael cumpre uma formalidade da empresa e entrevista Toby, que sabe ser um cavalheiro; Ryan arruma uns problemas com a lei; começa a festa; Michael faz papel de bobo; Jan apronta uma surpresa para Michael; Andy apronta uma surpresa para Angela; Angela apronta uma surpresa para Andy.




domingo, 21 de setembro de 2008

Great Expectations - Charles Dickens


Terminei de ler a primeira parte do livro. Deixei Pip indo para Londres, a sua vida de aprendiz de ferreiro num vilarejo ficando para trás e grandes expectativas de se tornar um cavalheiro enchendo o seu pequeno coração de menino. E ele não segue para Londres apenas com expectativas genéricas e impalpáveis de se tornar um cavalheiro, como, de resto, qualquer um que esteja indo para Londres pode ser compelido a sentir. Ele parte já contando os dias que faltam para que ele coloque as mãos numa handsome property.

Mais ou menos o que vai acontecer a partir de agora eu já sei. Conheço a história pelo filme, que é horrível - pelo menos a versão a que eu assisti. Lembro-me também do episódio de South Park inteiramente dedicado ao inglesinho que sempre se dá mal, em que alguma coisa do romance é tratada, com o bônus adicional de ser tratada com a narração de ninguém menos que Malcolm McDowell, ninguém menos que Malcolm você-se-lembra-de-mim-lá-do-Laranja-Mecânica?-,-sou-eu-mesmo McDowell.

Tentei encontrar uma cena desse episódio em que Pip, ou melhor, Handel (como ele é apelidado) recebe dicas de etiqueta do seu mais novo amigo, Herbert. Que observa de um jeito muito educado, britanicamente sutil, as barbaridades que o seu amigo provinciano comete à mesa. A versão feita nesse episódio é uma das melhores de toda a série.

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Por algum motivo que agora eu já não me lembro, deixei de parar e escrever em dez minutos alguma coisa sobre a segunda parte do livro. Aliás, não fiz isso nem quando eu terminei a terceira e última parte. Só agora, quase uma semana depois, é que volto para terminar este post. E o pior é que, de lá para cá, eu nem fiz a única coisa que eu poderia fazer para salvá-lo das trivialidades que eu estou prestes a falar, que era encontrar o link da cena do South Park.

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Eu já vi que no prefácio do David Copperfield, que será a minha próxima leitura do Dickens, ele mesmo afirma que D.C é o seu personagem favorito. Sua criança favorita, acho. Um escritor fazer uma declaração dessas já é uma coisa rara o suficiente para que eu já pudesse pensar que D.C seja bem melhor do que o G. E. Mas como eu ainda não li esse outro livro, não vou dizer que o autor está blasfemando contra o excelente personagem que é Philip Pirrip, a.k.a Pip. Aproveito, mesmo assim, a circunstância de Dickens não ter dito Pip is me, para dizê-lo eu: Pip sou eu.

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Se bem que o Mr. Jaggers, esse advogado aí que está comodamente esnobando um cliente, o Mr. Jaggers é uma espécie de modelo; um sujeito que não recomenda ninguém é uma espécie de modelo, em todo caso.

Sunset Boulevard - Billy Wilder


Era melhor. Naquela época tudo era melhor.

Agora, essa senhora aí, essa tal de Norma Desmond, era uma doida confirmada. Em todas as cenas ela faz com os lábios o movimento de quem está sorvendo largas quantidades de saliva, um pouco aterrorizada, um pouco querendo fazer as outras pessoas pensarem no cinema mudo como algo aceitável. Levemente grotesca, essa senhora. Não poderia ter sido melhor, aliás, a comparação que o próprio narrador faz dela com a Miss Havisham, sobre quem alguma coisa será falada ainda hoje, ou em breve, no post que eu escreverei quando terminar de ler Great Expectations.

Na hora de traduzir, de Sunset Boulevard chegaram a Crepúsculo dos Deuses. Não se sabe exatamente como. Que eu tenha percebido, pelo menos, não apareceu nenhuma emissária de deus da mitologia nórdica recolhendo dos campos de batalhas os guerreiros mortos para formarem um superexército. Nem plaquinha onde estivesse escrito "Walhalla" eu cheguei a ver, para ser ser franco.

E para não ficar escrevendo qualquer coisa só para gastar os dez minutos reservados à produção deste post, pesquiso uma foto da Nancy Olson.

sábado, 20 de setembro de 2008

Das Leben der Anderen - Florian Henckel von Donnersmarck


Lançado como A vida dos outros. E parando para pensar, acho que eu li há alguns meses uma crítica publicada na Veja sobre esse filme. Acho mais. Acho que essa crítica estava acompanhada de uma outra, sobre um filme do Viggo Mortensen. A substância dessas duas críticas, até onde eu me lembro, era revelar ao leitor a bombástica novidade de que as aparências podem enganar. Sobretudo no que diz respeito ao caráter das pessoas. Ora, de alguma forma até hoje insabida, alguém na Veja conseguiu deduzir coerentemente o postulado de que um cidadão aparentemente bonzinho pode ser, na verdade, um crápula. Para tanto, é óbvio, utilizando em algum momento a palavra "emular", que a lei não pode ser descumprida.

Mas no caso do espião da Stasi encarregado de bisbilhotar todo mundo que representasse alguma ameaça ao Partido, nas horas vagas interrogando suspeitos à exaustão e ensinando suas técnicas maquinalmente eficientes a uns alunos mais ou menos dedicados, mais ou menos suscetíveis de aceitar tranquilamente as atrocidades que lhe eram ministradas, as aparências enganam no sentido inverso. O sujeito que tinha tudo para ser o diabo encarnado, por natureza e ofício impiedoso, é o sujeito capaz dos atos de gentileza e bondade. Mais do que isso: é o sujeito capaz de praticar secretamente o bem em detrimento do seu próprio orgulho e bem-estar.

Eu realmente gostei desse filme. Mesmo em circunstâncias absolutamente desfavoráveis, um monte de gente passando no meio da sala e bloqueando o que eu estava vendo, consegui não perder a concentração. A nota de peculiaridade fica com o especialista que é chamado para descobrir em que máquina de escrever tinha sido escrito um artigo incendiário contra o regime comunista, artigo esse sub-repticiamente publicado na revista Der Spiegel de maneira anônima. Aquele cara pode bater no peito e dizer que é especialista.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Tae think again

O que me trouxe à mente uma lembrança especial sobre a expressão que é título deste post é uma música que eu conheço apenas na versão dos Corries, mas que um amigo me disse ser famosa e ilustre ao ponto de ser considerada quase um hino informal da Escócia. O nome da música é Flower of Scotland. Ela menciona, pelo que eu me lembro, um povo que montou uma resistência vitoriosa a umas tropas inglesas que pretendiam marchar em solo escocês; tropas inglesas lideradas por um monarca arrogante que foi mandado para casa para pensar de novo. Para pensar bem, como eu acho que se diria numa tradução menos literal.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dying changes everything - House

Acabei de ver. Vi pensando que era a continuação da quarta temporada, após o intervalo de alguns meses. Descobri que já é oficialmente o início da quinta.

É difícil escrever sobre os episódios da série. A menos que o diagnóstico seja alguma coisa como Síndrome da Utilização Incorreta de Meias, que é algo de que eu pareço sofrer cronicamente, a doença é o que menos interessa - acabo de experimentar um presságio estranhíssimo, porque os meus pés começaram a coçar muito inquietantemente.

Mas, falando sobre coisas que aconteceram no episódio, o retorno do pobre Wilson ao hospital foi recebido com a frieza que se poderia esperar da equipe. Não só do House. O povo falou, falou, mas ninguém chegou para o Wilson dizendo "Ah, essa história de morte é uma porcaria, uma autêntica porcaria. Eu não sei o sentido da vida". E uma intervenção dessa, vinda de um amigo, por mais incoerente que ela possa parecer, é, eu acho, a melhor coisa que pode ser dita para alguém que acaba de perder uma pessoa próxima.

domingo, 14 de setembro de 2008

The Million Dollar Hotel - Wim Wenders


Eu já odiava visceralmente esse Jeremy Davies desde Saving Private Ryan. Julgo que ali ele perdeu uma das melhores oportunidades que alguém já teve de resolver todos os problemas através de um simples apertar de gatilho. Foi uma covardia deprimente que ele não tenha fustigado, nessa ocasião, um dos alemães que invadiram lá aquela pequena vila. Quando ele apareceu em Lost, descompromissado com a retirada dos sobreviventes da Ilha, e ainda por cima fazendo umas anotações numa agendinha, minha antipatia se consolidou; sinal, eu imagino, de que ele é um bom ator. A se medir o seu talento pelo grau da repulsa intencionalmente criada que seus personagens causam no espectador, aliás, neste filme ele terá atingido um dos pontos altos da sua carreira.

Ele é um skatista oligofrênico morador de um hotel onde uma porção de rejeitados sociais ficam cultivando seus próprios defeitos. Eu me pergunto se no Brasil já estão usando a expressão "mentalmente desafiado" para designar as pessoas com retardo. Acho que de todos esses novos eufemismos, esse é o que mais parece elogiar a pessoa cuja deficiência se quer fingir que não existe.

Preciso dizer que o Tom Tom (é o modo pelo qual ele é conhecido; depois ele fica fazendo graça e dizendo que gostaria de ser chamado apenas de Tom) afronta a humanidade de uma maneira muito grave quando ele fica lá do ladinho da Milla Jovovich e recebe toda a atenção dela. Considerei isso um insulto pessoal, um agravo que só poderia ser desfeito pegando-se em armas. Todo mundo sabe que tão logo a Milla Jovovich seja vista com algum homem, ato contínuo aparece um outro querendo duelar. Mas em boa hora ele se jogou do topo do edifício, assim evitando que eu sujasse as minhas mãos de sangue. Qualquer coisa, também, Mel Gibson apareceria - grotescamente equipado com um instrumento metálico de apoio dorsolombar - para fazer o serviço sujo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Breakfast of Champions - Alan Rudolph


Eu agora posso dizer que se existe alguma história que você, depois de uns nove meses, terá esquecido muitos dos seus detalhes, e que ver o filme ajudará a lembrá-los só um pouco, essa história é Breakfast of Champions, de Kurt Vonnegut Jr.; mas posso acrescentar: assistir ao filme certamente recuperará alguma da caótica visão de mundo que você poderá ter adquirido lendo o livro. Particularmente se a sua visão de caos envolver uns chilreios ruidosos de uns pássaros nos pequenos intervalos da sua vida em que nenhuma palavra é pronunciada, esse filme não irá ser uma decepção.

Kilgore Trout - um escritor de ficção científica publicado no underground das revistas com capas eróticas - está exatamente como eu me lembro de o ter imaginado: velho, sujo, um pouco lunático, um pouco sábio. O apartamento dele, esse eu não tenho dúvida de que é o mesmo que eu tinha criado na minha cabeça.

Mas outras visões psicodélicas que preenchem o filme do início ao fim terão sido, na minha opinião, um capricho do diretor; um capricho desnecessário como quase todo capricho. Agora, que a história tenha sido encenada nos anos 90, em vez de algumas décadas antes, como no livro, pelo menos permite que a coisa toda não fique absolutamente postiça e forçada.

Arrested Development


Agora eu já posso dizer que conheço inteiramente essa série; antes eu tinha uma noção bastante comprometida da história. Só tinha visto alguns episódios que não faziam o menor sentido quando eu me lembrava de alguma passagem de algum episódio a que previamente eu havia assistido. Já então, contudo, eu sentia que eu estava cometendo uma injustiça. Concluí que eu deveria aproveitar a primeira chance que eu tivesse para, dando à série a atenção devida, me corrigir. De maneira que não me arrependo de ter passado um bom tempo para rever todas as três temporadas.

A coisa é divertida e tem o poder de imediatamente suscitar no espectador a sensação de estar vendo algo fora do ordinário. Bastante fora, até. Aliás, leio em alguns sites que há rumores de que ela pode voltar.

Mas falando de Arrested Development e da família Bluth, a série tem lá um prólogo que é repetido no início de cada episódio e que serve para dar uma idéia da história: Now the story of a wealthy family who lost everything and the one son who had no choice but to keep them all together. Uma voz de excelente fraseologia diz esse prólogo e, ao longo dos episódios, vai fazendo umas incursões narrativas para dar ritmo. A maioria das quais no estilo meanwhile, nevertheless, unbeknownst to, back at the model home, etc - essa última explicada pelo fato da família morar numa casa modelo precariamente construída por sua própria companhia.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Cecil B. Demented - John Waters


Eu senti uma identificação particular com a cena inicial desse filme porque apenas alguns dias antes eu havia testemunhado pessoalmente algo que apareceu lá, e que eu simplesmente acho uma das coisas mais fascinantes da modernidade: a colocação de letras naqueles anúncios de cinema. Aqueles anúncios tão característicos, espécie de placar de fundo branco. O bônus da cena inicial desse filme, e que foi uma surpresa para mim, foi a música.

Outra vantagem desse filme é o elenco. A história é uma daquelas que contam com uma pletora de personagens, cada um sendo apresentado muito brevemente, muito concisamente, e da melhor forma encontrada pelo roteirista para dizer numas três frases a que veio aquela criatura. Essa circunstância freqüentemente leva a pequenas frases engraçadinhas e alguns tremeliques. Sempre tem alguém dando uns tremeliques quando isso acontece. Nesse filme, levaram a coisa ao ponto de haver literalmente uma fila de personagens que iam sendo apresentados dessa maneira. E houve tremeliques.

A parte estupidamente boba ficou por conta do título. Cecil B. Demented é o pseudônimo lá do sujeito. O que está por trás do "b", que eu me lembre, permanece desconhecido. O nome mesmo do cara, para que se tenha uma idéia, é Sinclair. Ou seja: até onde se sabe, poderia muito bem ser qualquer outra letra. Mas os gênios aproveitaram o "b" para traduzir como Cecil Bem Demente.

Top Hat - Mark Sandrich


Eu aluguei o DVD num ato de improvisação totalmente fora do esquema para o qual eu havia me programado. Foi o toque de aventura, ou de simples mau planejamento, do meu dia. Na minha cabeça todas as precauções cabíveis haviam sido tomadas; no site da locadora eu verifiquei a disponibilidade; cheguei até a ligar para a loja e confirmar se o filme não estava alugado por uma outra pessoa. Só não contava com o imponderável fato da atendente, embora esquadrinhando as prateleiras por uma meia hora, não conseguir encontrar o raio do DVD que eu estava procurando. E olha que eu ajudei nessa busca, apesar da minha conhecida distração no que diz respeito a me concentrar diante de um painel, cardápio ou coisa parecida.

"Tudo bem", eu disse, quando as procuras já mostravam claramente que seriam infrutíferas. E querendo não frustrar a expectativa que eu já havia criado na pobre atendente de que eu iria alugar mais alguma coisa (porque o outro filme que eu procurava já estava nas minhas mãos), eu completei, quase me vangloriando: "Eu vou levar... eeeste aqui", como se o negócio inteiro da locação de filmes dependesse dos meus três reais a mais na conta. Que idiota.

Depois fiquei pensando que muita coisa nesse filme é também um ato de improvisação. Algumas cenas chegam a durar uns dez minutos; algumas cenas, quero dizer, daquelas em que o Fred Astaire fica lá sapateando no chão e às vezes na parede. Impossível que muita coisa ali não seja inventada na hora, ou que o diretor tenha sido caprichoso ao ponto de dizer "Corta, corta. Ô, Fred, a sola do seu sapato não atingiu o chão da maneira como deveria. Assim não dá, ô, Fred".

Bottle Rocket - Wes Anderson


O espírito de inventário com o qual eu tenho escrito este blog acabou de ganhar um novo elemento. Pelo menos no que diz respeito à maioria dos posts, quero dizer. Como sou incapaz de escrever profusamente sobre todos os filmes a que assisto, e mesmo desinclinado seja a criticá-los acerbamente, seja a elogiá-los com fervor, criei a regra de gastar apenas dez minutos escrevendo estes microposts que apenas registram o fato. A coisa dos dez minutos, reparem, já começou; daqui para a frente não haverá essa pequena introdução, porém.

Posso dizer que fiquei animado. A urgência, se é que assim pode ser chamada, é divertida; espero que, vez por outra, ela tenda ao caos. Mas não posso contar no tempo de realização do post a localização do link no IMDB, nem a pesquisa do foto da capa do filme. Porque aí já seria muito avacalhado.

Bom, eu baixei o Bottle Rocket no Mininova. Dos filmes do Wes Anderson a que andei assistindo ultimamente, talvez tenha sido o mais tranqüilo. Tranqüilo é a palavra. Quando um filme sobre criminosos realmente tem o efeito de me induzir a delinqüir, é porque o crime afinal não é muito brutal e, portanto, é tranqüilo. Mais do que nunca, Owen Wilson interpreta um aparvalhado. E dessa vez, com roupas mais amarelas do que o normal. Eu gostei bastante da casa de um dos amigos, o que foge no meio da empreitada, com o carro, deixando os outros dois no meio da estrada. Em algum ponto, essa casa é assaltada.
 
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